DÓLARES DE AREIA ( 2014 / Rep.Dominicana-Argentina-México / drama / 80’ ) de Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán – por Cristina Paraguassu.


O filme começa com uma bela canção, um cantor idoso, prenúncio de um filme diferente da maioria dos que são feitos hoje em dia. É um drama, mas não há a maldade de se revirar vísceras, aliás, não há julgamento moral.

Noeli (Yanet Molica) e seu namorado Yeremi (Ricardo Ariel Toribio) são paupérrimos, habitantes do paraíso que deveria ser a República Dominicana. Ela se prostitui com clientes que chegam da Europa na rota do turismo sexual.

Com uma das turistas já está há três anos; como é tão jovem pode-se aventar pedofilia, mas também nada se diz sobre isto. A cliente é Anne, papel que Geraldine Chaplin teve a ousadia de fazer brilhante e humanamente. Após mais de 140 filmes na carreira, continua a mesma atriz corajosa. Em uma rápida cena ao celular descobrimos que Anne é uma mulher solitária , em péssimo relacionamento com o filho. A paixão que nutre por Noeli, a quem paga bastante bem por este relacionamento, alivia seu sofrimento. A frieza com que Noeli encara sua realidade sem alternativas aparentes é um toque de realismo que choca os mais desavisados. A miséria exibida no filme não se restringe ao dinheiro. Mostra com beleza poética e sem moralismo que ricos e pobres são feitos da mesma substância e sofrem igualmente - com a diferença que uns bebem vinho e outros água contaminada!

E a vida segue com cada um se arranjando como pode ou consegue, sem perspectivas de transformações. O filme mostra injustiça social, exploração sexual, assalto, miséria, mas não julga nada, apenas revela os aspectos humanos e este é seu maior mérito, junto com Geraldine Chaplin, que humaniza a turista europeia ao extremo.

Que o mundo deveria ser melhor, mais igualitário, haver mais amor, todo mundo sabe. Mas não serão visões maniqueístas ou a volta da guilhotina que farão isso acontecer. Talvez abordagens humanistas como a deste filme ajudem, mesmo sendo apenas um grão de areia, mas com um grande peso! Embora areia seja levada pelo vento...

Cristina Paraguassu