O filme começa com uma bela canção, um cantor idoso,
prenúncio de um filme diferente da maioria dos que são feitos hoje em
dia. É um drama, mas não há a maldade de se revirar vísceras, aliás, não há
julgamento moral.
Noeli (Yanet Molica) e seu namorado Yeremi (Ricardo Ariel
Toribio) são paupérrimos, habitantes do paraíso que deveria ser a República
Dominicana. Ela se prostitui com clientes que chegam da Europa na rota do
turismo sexual.
Com uma das turistas já está há três anos; como é tão jovem
pode-se aventar pedofilia, mas também nada se diz sobre isto. A cliente é Anne,
papel que Geraldine Chaplin teve a ousadia de fazer brilhante e humanamente. Após
mais de 140 filmes na carreira, continua a mesma atriz corajosa. Em uma rápida
cena ao celular descobrimos que Anne é uma mulher solitária , em péssimo
relacionamento com o filho. A paixão que nutre por Noeli, a quem paga bastante bem
por este relacionamento, alivia seu sofrimento. A frieza com que Noeli encara
sua realidade sem alternativas aparentes é um toque de realismo que choca os
mais desavisados. A miséria exibida no filme não se restringe ao dinheiro.
Mostra com beleza poética e sem moralismo que ricos e pobres são feitos da
mesma substância e sofrem igualmente - com a diferença que uns bebem vinho e
outros água contaminada!
E a vida segue com cada um se arranjando como pode ou
consegue, sem perspectivas de transformações. O filme mostra injustiça social,
exploração sexual, assalto, miséria, mas não julga nada, apenas revela os
aspectos humanos e este é seu maior mérito, junto com Geraldine Chaplin, que
humaniza a turista europeia ao extremo.
Que o mundo deveria ser melhor, mais igualitário, haver mais
amor, todo mundo sabe. Mas não serão visões maniqueístas ou a volta da guilhotina
que farão isso acontecer. Talvez abordagens humanistas como a deste filme ajudem,
mesmo sendo apenas um grão de areia, mas com um grande peso! Embora areia seja
levada pelo vento...
Cristina Paraguassu