SAUDADES DO FESTIVAL DO RIO (2014)... - por Carmem Cortez



É uma espera de um ano. Nas três semanas que antecedem, os amigos cinéfilos começam a se mobilizar, discutindo logísticas, esperando os premiados que ainda não chegaram, a liberação dos ingressos via internet, o pdf da revista com a programação... Uns nervosos, outros disfarçando a ansiedade, mas todos reunidos num grupo na mesma rede social, ávidos pelo evento que nos tira o sono, que nos faz pedir férias no trabalho, ou inventar desculpas para escapadas do serviço. Festival do Rio é como um amigo querido que viajou e a gente fica esperando a hora dele chegar.

Pra mim é um momento mágico de reencontro com pessoas queridas sem prévia combinação para assistirmos, juntos ou não, a filmes inéditos e maravilhosos. Pense no que é assistir a um filme com duas fileiras do cinema repletas só de amigos!? Não existe outro evento que permita tal cenário. Não importam os eventuais furos que a organização porventura possa cometer, todo ano estamos todos lá. Reunimo-nos tanto física quanto virtualmente. No contato virtual, costumamos brincar de comentar e dar notas aos filmes vistos. Transcrevo, pois, abaixo a minha traquinagem no último festival.  

Ai MEODEOS se preparem:

1) O SAL DA TERRA: Nunca ficou tão emocionante ouvir as fotografias do Sebastião Salgado [9,5] 

2) BIRD PEOPLE: Queria muito ter gostado desse, mas ... eu (acho) me perdi, ou o pardal se perdeu naquela história...well, sorry PEOPLE who liked, but, it was a bulshit [2,0] 

3) MAPS TO THE STARS: "Surely, 'u' must be wrong" "Don't call me surely". Cronemberg faz até piada da piada mais famosa do cinema. Ótimos momentos; parece que ele estava se divertindo...e eu tbm [8,0] 

4) VIOLET: Achei que fosse demorar pra engrenar meu festival, mas esse holandês foi lindo! Além de tudo coube direitinho nos seus 82'; não sobra e nem falta. O mais legal aqui é que seu olho parece ter de se acostumar a quase cada frame, e no início do filme isso não é muito fácil. Só se entende o primeiro quadro, aliás quase no final da história. Uns planos aqui e ali que me lembrou um pouco de algumas coisas q já vi do cinema do leste europeu, um estilo, uma estética...tem que acostumar a retina para formar 'gestalt' (sabe aquela coisa de figura/fundo? Ora vê figura, ora fundo!!!).[9,8]

5) BLIND: Intrigante, instigante. Bem montado esse vai e vem da imaginação fértil da escritora [8,0] 

6) BURYING THE EX: Um tapa buraco (confusões de organização de Festival), fui sem expectativas. Não vejo esse tipo de filme, não gosto deste gênero (zumbie movie), mas sabia do que se tratava. Mesmo com todo frenesi em torno do diretor e que tais, ainda assim não o escolheria. Fui pela farra de estar com amigos cinéfilos, e nessa ‘vibe’ me deixei levar. E me diverti. [9,0] obs: veja bem, a nota é por achar que ele cumpriu o que se propôs.

7) DENTE POR DENTE: Kim Ki Duk é amar ou deixar. Eu amo. Encontrei alguém que me perguntou: 'Vc vê K.K.D?" como se dissesse: Que coragem!!!! Eu vejo! Sim, eu tenho coragem! E sim, eu gosto. E com a ajuda de um jornalista que já o entrevistou e viu o filme comigo e mais dois amigos, clareou uma noite inteira. Pelo o que vi e escutei no final [9,0] 

8) LA PAURA: é um clássico, né, gente!? Não vou dar nota, não! 

9) CASTANHA: É lindo, mas eu cortaria alguns minutos. Mas deu pra entender por que esse longa é longo. Davi Preto quis oferecer uma figura regional demais - quem conhece esse cara de POA e que poderia ser mais um artista da noite?! Davi então cerca Castanha por todos os lados: religião, família e seus conflitos, Castanha no trabalho, sua saúde, o pai, figura ausente e a angustia e ressentimento decorrentes disso. Devidamente apresentados, e não resta dúvidas de que Castanha é nosso brother (quase dei um tapinha nas costas no final da projeção). A isso tudo se apoia uma bela fotografia, um filme de gente grande, e ele só tem 20 e poucos aninhos e estreando em seu primeiro longa. Falei aos que do meu lado estavam: "não por acaso foi para Berlim" [9,0]

10) TIMBUKTU: meodeos! quem não viu, não o perca (circuito exibidor o mais breve). Fotografia, direção primorosos! Esse diretor sabe explorar essa coisa sentimentalista positivamente. O Chocante se mistura ao poético (o da cantora sendo punida a chibatadas). Destaque para o plano dos dois homens, um em cada canto do quadro... Lembrei na hora de O Sacrifício de Tarkovsky, na cena da menina nua que se olha no espelho - o real e o reflexo. No do filme em questão, o homem que sobrevive e o que está agonizando como um peixe fora d'água, os dois equidistantes dentro do quadro! É um excelente manipulador, com todo bom sentido que essa palavra possa ter! [9,9]

11) GUEROS: Tem umas sacações espertas de câmera, de áudio, câmera girando de cabeça pra baixo, mostrando a sombra do menino correndo. A música diegética no início do filme... Outra vez a câmera saindo correndo atrás dos meninos como se fosse um deles filmando 'nossas peraltices'.... Mas aí tem um momento meta linguagem... Sei lá, senti meio forçação de barra, meio querendo ser 'cool'... Fiquei com a sensação de que foi colocando um pouco disso, um pouco daquilo, pra ficar descoladinho, hypster, virou pra mim um monte de coisas 'cool' dentro do mesmo balaio. E tem aquela coisa de ser filme em preto e branco... Modinha?! Mas, ops, palmas para uma grande sacada, que é o momento do bêbado 'alugando' o garoto. Quem nunca, na volta da 'night', já não teve um ‘pela-saco’ desses e sua história interminável?! E me pareceu que foi 'A' cena. Não estava no script, e o diretor aproveitou. Se isso de fato rolou, grande acerto. [6,0]

12) WIPLASH: Quer saber, esse filme te pega. E ele te pega mesmo. Uma professora da PUC de Cinema, uma vez falou: Quando o filme te pega, não tem jeito. Pode ser uma bobagem, mas se ele te pega..." E ela tem razão. É 'hollywoodianesco’, mas veja bem, isso não é um demérito. Momentos de marejar, como o dos bastidores, a afinação dos instrumentos... E vamos combinar que jazz em dolby surround ... Fala a verdade, pega ou não te pega?! Claro que pega. Pega e rodopia com você escada abaixo até o saguão do Estação Net Rio [9,3]

13) CORAÇÕES FAMINTOS: uma câmera GO-PRO (?!!?) mostrando uma mãe 'maluca' - as mães são todas malucas. Mãe da gente é tudo maluca. Se agarra ao filho com medo que ele sofra, cresça, assuma reponsabilidades de seus erros (que também é uma forma crescida de se estar na vida)... e mata pra proteger! Mas aqui isso tudo não me ganhou. Foi uma 'viagem' ok! Um filme ok, e o grande mérito dele, deve-se a atriz ganhadora do Copa Volpi, justíssimo, diga-se de passagem! [6,1]

14) MOMMY: Falem o que quiserem, riam, falem mal, mas quando acabou eu fiquei mexida. Custei a levantar da cadeira. Pegada pop, com o Oasis, o rodopio com o carrinho de compras, e a expansão da tela (licença poética-visual?!!) ‘Gentem’, me chamem de cafona por isso mas curti tudo nesse Dolan, inclusive os exageros do garoto e da professora com sua gagueira, suas dores traumáticas - fazer o que? Eu sou ridícula na medida dos versos do poeta, sou emocionalmente ridícula às vezes. Mas só às vezes. [9,5]

15) MUNDO DE KANAKO: É amor X ódio. Escolhi o amor (acho que tenho andado sensível) também. Daí que, né?, é cinema japonês - aquele vertente de sangue, violência e cultura pop japonesa. [8,3]

16) AMNÉSIA VERMELHA: Estava ansiosa por esse aqui e não me decepcionei - falar sobre revolução cultural ainda é uma questão delicada na China comunista, ainda que nos dias de hoje. Haja vista Ai Wei Wei que passou horrores. Convenceu-me esse expediente de narrar como um conto, um romance, para falar de como a Revolução Cultural, a China de Mao, deixou hoje os seus idosos acostumados a viver para o outro (Estado), e se esquecem de si! Servir a pátria outrora, servir e ficar em função dos outros/filhos. O surgimento do garoto, um elemento fora desse universo estritamente político, sugere ao meu ver uma camada de um perigosamente carmim mais tênue, mas não menos urgente de quem precisa fechar feridas abertas pela traição, de quem precisa encontrar seu lugar ainda que em um asilo! [9,8]

17) ALOFT: Tive meu momento ausente (só lia a legenda). Pedi a quem assistiu comigo para me contar a história TODA do filme. Não, não dormi. Fiquei acordadíssima, e então, com o que ouvi e vi, casou super bem. Ou seja, um filme que você não consegue manter nenhuma atenção nos diálogos, alguém te conta a história, e não fica aquela sensação de "puxa, deveria ter me ligado na tela"... Não pode ser considerado bom. Assim eu o avaliei. [4,0] quatro para a Jennifer Conely. E olhe lá! "ALOT OF" nothing.

18) MR TURNER: Direção de arte primorosa. O ator? Show! Vale um [9,0], gente! Nem senti os 149'

19) A VOZ DE SOKUROV: É sempre bom ouvir o que um cineasta tem pra dizer mesmo que seja num formato esquemático...e chaaaatooo! Demorasse mais 10', e eu teria perdido o 'grand finale'. Fechei o olho, acho, na última frase dita pelo próprio. Foi a pálpebra descer, e a luz acender! [5,0] Pena!

20) PARTY GIRL: Sabe o que tem de sensacional nesse filme, o fato de todos aqueles não atores, que é a família dele, estarem ali tão bem. E o cara fala da mãe. A família do cara toda exposta ali, tão suavemente exposta... Um bom filme só por causa de uma boa ideia de reunião de família. Poderia ter feito isso em casa num jantar de Natal... Não, não foi uma má ideia: trocou um jantar de família entre eles, por uma tela de cinema! [7,0]

21) REVOLUÇÃO AO CONTRÁRIO: Um documentário envolvente, abordando assunto tão delicado: política e seus questionamentos! Através do trabalho de um antropólogo, a diretora pega carona nos protestos do 'Occupy Wall Street' e com as imagens dos ‘figuras’ que lá estavam. Bem montado. Ela é bem habilidosa, a Chiara - conseguiu cercar um assunto tão abrangente! Ela foi de uma coesão incrível, essa diretora! E ela vai lá longe, sai do assunto e volta nele; ela não se perde. Faz um parêntese e continua pontuando a eterna questão da exploração do homem pelo homem dentro de aspectos como dívida e perdão, mercado financeiro.... Ela é massa! Difícil, viu, fazer um doc com essa abrangência toda. [10,0] Como doc merece dez!

22) VIAGEM NOTURNA COM JIM JARMUSH: Não sei se foi opção de quem dirigiu, sugestão do JJ, mas o resultado me agradou. Quase esbarrou num mega Making off,  mas o trabalho dele nos bastidores, e o foco em sua direção, não deixou dúvidas de que nada melhor num documentário sobre um diretor, do que mostra-lo em ação. Foi rodado no set de filmagens de seu "Only Lovers Left Alive", e pra quem não viu esse seu último filme, pode ter ficado entediado (vi varias pessoas saindo no meio). Sim, foi lindo ver Tilda Swinton ensaiando, gravando a cena na real, discutindo cenas com Jim, ele dizendo a ela que quando pedisse as passagens para Tanger deveria falar mais devagar porque... (SPOILER NO!). Uma proposta diferente e que foge - graças a Deus - daquele formato quadradão: cineasta fala / alguém fala sobre ele / imagem de arquivo de alguns filmes dele e blá, blá, blá. Grata surpresa! [9,9]

23) POR CIMA DO SEU CADÁVER: Adorei, não sei explicar direito porque. Eu tenho isso vez por outra. Como cinema pra mim é antes de mais nada uma experiência sensorial, eu fico com a sensação de ...aí acontece de alguém falar sobre o filme, e acaba dando continente as minhas sensações. Traduz o que eu vivi naquele momento. Se ao menos eu tivesse domínio dos termos técnicos...[9,9] _

24) CARVÃO NEGRO: Que belo filme! Que filme belo! Parabéns a todos os envolvidos: colorista, ator, atriz, fotografia... [9,0] 

25) COMING HOME: Nas mãos de hollywood seria aquilo, né, melodrama enjoado, beirando ao fiasco, mas aquele pessoal do velho continente não sabe fazer só tênis, eletroeletrônicos, não, sabe fazer arte. Uma arte elegante. Eu penso que Zhang Yimou faz uma coisa mais palpável, mais fácil de alcançar, universal. Se por acaso os EUA vira a cara para algum conterrâneo seu, com Zhang Yimou duvido; tem um sorrisão na cara de cada 'mother fucking american’. Só esticar a mão que seu cinema tá logo ali, ó, fácil de tocar, apreender. Oi Zhang me add no FB. begosmig! [9,8]

26) O PREÇO DA GLORIA: Divertido. Um roteiro bem original. Se é uma homenagem ou não, pouca me importa. Valeu meu [6,5] do início ao fim.

27) PROCURANDO FELA KUTI: Fela Kuti era 'o' cara! Era massa! Pica! Figura, o Fela! Fellow, oh yeah! Eu já falei algumas vezes e vou repetir - atenção, isso é uma visão muito particular - que 70% de um doc se deve ao que, ou de quem se fala. E eu gostei desse 'guy'. Um showman que inaugura um estilo novo de música, e que apesar de poder, não sai da Nigéria! E fica lá defendendo seu povo usando sua arte como instrumento de guerrilha. Ele apanha dos soldados do governo! As nádegas e as costas com marcas profundas, mas no dia seguinte vai pro palco e compõe de improviso! Isso é que é força! Tem como não amar FELA? Ele casa com 27 mulheres... Ele é um louco! Um louco adorável! Fela Kuti pra presidente! [9,3]

28) VARA - UMA BÊNÇÃO: Desculpem-me aos que se encantaram aqui com isso. Teve boa intenção, eu percebi, mas só boa intenção! Fiquei com a sensação de que não era na história, acho q foi em algum lugar ali... perto de Butão, que esse filme ficou tão longe de mim como um monge tibetano. [3,0] 

29) E AGORA, LEMBRA-ME?: Até quando fala de vírus, fala da vida! As 2 horas e 45min foram bem utilizadas, porém me deu uma leve impressão que quase na reta final, parecia que criador estava preso a sua criação, sem querer deixar a cria, o rebento (filme) ganhar o mundo. Ficou meio que ali se agarrando ao 'filho', como se este fosse seu fio de esperança. Sua ligação concreta as suas memórias, seu elo com a vida, seu 'post it' para não esquecer que, enquanto se está vivo... E agora, lembra-me! [8,3]

30) KUMIKO (((meu queridinho! Beijos, Rinko!))) kkkkk, gente, KUMIKO é ótimo! É dez! Me corrija se estiver errada, ele faz as mesmas brincadeiras que os irmãos Coen! E tem aquela atriz maravilhosa de Babel, Pacific R.I.M (Guilhermo Del Toro) e de outras produções que já vi, mas agora me fogem a memória! A Kumiko é dez!. Ah, a nota é [10,0] obvio!

31) THE HUMBLING: Esse filme faz um acerto quando escolhe All Pacino pra esse papel. O cara é bom, é afiado! E tem uma estrutura meio Woody Allen! Eu me lembrei de "WHATEVER WORKS" naquele Pacino que se relaciona com a mocinha. Destaque para a cena naquele plano onde aparecem os três, Pacino e os pais da jovem atriz, quando ele já está sentindo os efeitos da injeção. Cena esta que, além de fazer rir principalmente pela pantomina sutil, me deu a certeza de haver um Woody Allen pairando no ar! [9,6]

32) MR. LEOS CARRAX: Sr. Leos Carrax, é um título que sugere uma apresentação. O Sr. Fulano de Tal...e segue-se uma descrição. Assim transcorre esse doc; o Sr. Leos se apresenta / é apresentado de um jeito meio inusitado, e na maior parte das vezes, através do discurso do seu ator-fetiche, Denis Levant e mais alguns outros (atriz, assistente de direção, etc). Em muitas das cenas ele surge como uma imagem meio desfocada, meio envolta em fumaça dando a entender ser uma figura fantasmagórica. Essa alegoria remete à importância que os fantasmas tem em seus filmes. O bom desse documentário é o fato dele ser original em sua narrativa - o filme é a personificação deste diretor; uma espécie de espectro dele. E assim o filme brinca de ser: ora é uma locução em off, ora é uma aparição fantasmagórica, ora é uma imagem de arquivo de seus trabalhos ... Vale ressaltar ainda que, definitivamente, quaisquer dúvida sobre do que se tratou Holly Motors, aqui elas se encerram. [8,5]

33) O AMOR É ESTRANHO: Ele pode ser realmente estranho, como na cena do garoto chorando na escada - ali tem culpa, tristeza, os desdobramentos do amor - momento, aliás que considero ponto alto do filme. Fechei aí minha percepção de que o amor neste filme pode ser estranho não por ser entre dois homens, mas por ter tentáculos que tentamos separar do corpo que os sustenta, numa tentativa romântica de tratar o AMOR como algo sublime, com ausência absoluta de dor, de medo, de raiva ... O amor é estranho porque está contido nisso e contem isso tudo, fazendo a gente parecer um polvo cheio de braços, desengonçado, sem saber direito qual desses braços abraçar, e em que tempo, hora e/ou lugar [9,0]

34) JIMMY'S HALL: Acho incrível a maneira como Ken Loach faz a naturalidade transbordar nas cenas onde a classe trabalhadora se diverte! É poesia!! Um advogado em favor da dignidade que a classe operária tem que ter, um arauto das necessidades do povo sem ser panfletário, um desses chatos que povoam nossas timelines. Política é um tema recorrente, mas sinceramente o melhor dele é essa fácil e fluida alegria com que a gente, aquela gente, ri, canta, dança, bebe, segue a vida.[9,0]

35) REMAKE, REMIX, RIP OFF: Minha gargalhada estava garantida e eu não sabia. Escolhi pela curiosidade de saber o que se produzia na Turquia nos anos 70, 80.. Produzia(?!), copiava... Um mesma tema (assunto ou música) rendia vários remakes. Quem poderia imaginar que os turcos eram assim, digamos, tão caras-de-pau?! Achei que a essa altura já estava vendo doc demais #SQN. Fui feliz nesse! [9,8]

36) O PRESIDENTE: Palmas para o final! E no decorrer fiquei me perguntando, 'e agora, qual a solução que o diretor vai dar aqui?' Redondo. Redondinho mesmo! Inclusive o vai-e-vem da morte de Sua Majestade - mata assim, mata assado, mata desse jeito, não, mata daquele outro...não, não mata porque ele vale UM MILHÃO rsrs - Vá, menino, vá dançar, porque as luzes do seu palácio já apagaram! E nada mais lhe resta a fazer, a não ser viver sua infância até onde isso possa ser possível. [9,7]

37) CAVALO DINHEIRO: nunca tinha visto nada de Pedro Costa, mas fiquei boquiaberta com esse seu Ventura e sua historia, e sua narração que o move pra lá e pra cá, entre estar vivo e estar morto! Ele causa uma estranheza incrível. Incrivelmente filmado! [10,0]

38) CONTOS IRANIANOS: Por uma ironia qualquer dessas da vida, seria minha primeira sessão do festival, foi ansiosamente aguardado, perdi-o no Festival, torci pra tê-lo na repescagem, ele entrou, e...FIASCO total! De uma verborragia... Especialmente a cena final! Saíram do nada pra lugar nenhum. Não vi nada que merecesse melhor roteiro - Veneza doravante vai ter um pé meu atrás! É [3,0] só porque tenho uma relação afetiva com a filmografia iraniana!

39) ALGO A ROMPER: Várias camadas , várias leituras possíveis se rompem neste filme. Angustia do desejo, a dor da separação... Enfim, um drama bem construído. [9,3]

40) MUITO ALÉM DAS PATRICINHAS DE BEVERLY HILLS: A juventude quer se ver retratada e essa demanda provoca em profusão as várias e conhecidas produções dos filmes' teen', especialmente os da década de 80. Só entendi isso quase no final. As cartelas ajudam, mas tem de se ligar e forte na narração em off, que no escurinho do cinema, ar condicionado e uma dose de sono atrasado pode comprometer o entendimento. Esses elementos não interferiram, mas talvez se o visse durante o Festival e não na repescagem, teria curtido pouco! A cada cena dos 'clássicos' de várias 'sessões da tarde' de outros verões, lembrava com prazer dos filmes que assisti. E sem culpa de assumir que vi tudo ou quase tudo aquilo ali! [7,0]

41) VIAGEM À ITÁLIA: Mais um Rosselini que acabou fechando o Festival / repescagem. Como o outro, esse também não darei nota por ser um clássico.

42) PEIXES INSÓLITOS: bonitinho, foi evoluindo bem até o momento em que poderia ter terminado a história. Não terminou ali onde deveria, continuou, e foi desastroso com aquela espécie de carta-despedida pra família. Se não fosse isso, poderia ter rendido um oito, mas vai ficar com um [6,6], só pra não quebrar o amor que construí ao longo dos 2/3 e 1/2 do filme.

GENTEM, são mais de trezentos títulos e a gente enlouquece sem saber direito se fez a escolha certa; se deveria ter visto um TSAI MING LIAN ao invés de um KEN LOACH... Não tem grade que dê conta, mas mesmo assim é uma experiência ímpar. O único bálsamo que revigora meu espírito se chama Festival do Rio.


Carmem Cortez