Segundo a meteorologia, hoje choveu no Recife. Mas, com
previsão de 23 a 32 grau...s, não se pode dizer que foi um dia frio na capital
pernambucana.
O que Kleber Mendonça Filho simula, em seu curta
metragem "Recife Frio", é um acontecimento climático inexplicável que
transforma a capital numa cidade extremamente gelada, com temperaturas em torno
de 14 graus.
O céu está sempre nublado, nos camelôs a oferta é sempre de
casacos, mendigos que não morrem congelados fazem fogueiras de pneus pelas
ruas, as praias ficam desertas. No ápice da crítica social do filme (e há
muitas) o adolescente da classe média troca seu quarto com o menor, porém mais
quente, da empregada; e o shopping vira o único ambiente de sociabilidade da
população.
O formato extremamente verossímil é de uma (falsa)
reportagem de um canal de TV estrangeiro, fato que justifica a narrativa
didática e aumenta o grau de fascinação por tão adorável (e perversa) farsa.
Kleber é pernambucano, o que legitima sua sentença final: mas será que a
temperatura pode ser acusada como a maior modificadora da vida social? Será
que, apesar de todo o clima tropical, já não éramos todos muito frios?
Rudá Lemos