VENTOS DE AGOSTO ( 2014 / Brasil / drama / 77’ ), de Gabriel Mascaro - por Dario P Regis.



O primeiro longa de ficção de Gabriel Mascaro – diretor de documentários premiados como DOMÉSTICAS, A ONDA TRAZ O VENTO LEVA e AVENIDA BRASÍLIA TEIMOSA – não consegue ser totalmente ficcional. Tem um acentuado conteúdo documental que antecede e dialoga eficazmente com a ficção proposta a posteriori, costurando, nessa interseção, uma convincente fábula sobre o viver (e o morrer) numa pequena vila do litoral de Alagoas que está sendo engolida pelo mar. Uma comunidade real, à margem do poder público, onde nem a polícia consegue chegar, mas igual a tantas outras – factuais ou fictícias, aqui ou alhures – ainda isoladas da famigerada "aldeia global". 

No entanto o que mais chama atenção no longa não é sua ‘história’, e sim seu forte aparato estético, com tomadas absolutamente bem elaboradas, sofisticados enquadramentos estáticos, belíssimas imagens subaquáticas, e um desenho de som como há muito não se via no Cinema Brasileiro, criando uma ensurdecedora e impressionante interface Som X Silêncio. O resultado é um filme despojado e ao mesmo tempo grandiloquente; singelo, mas arrebatador. 

O diretor e fotógrafo Gabriel Mascaro ataca de ator no filme, encarnando um enigmático pesquisador que, munido de potente equipamento de gravação, aparece na vila para registrar o som dos ventos alísios. O personagem cria uma brincadeira metalinguística no longa, contextualizando a exuberante edição de som, que poderia está sendo captado por ele, se o mesmo não fosse apenas um personagem ficcional. Na verdade o excelente trabalho sonoro do filme é assinado por Maurício d’Orey (edição/mixagem), Victoria Franzan (som direto) e Moabe Filho (som adicional). 

Dandara de Moraes é a única atriz profissional do longa e faz sua estreia na telona. Ela recebeu por este trabalho o Candango de Melhor Atriz no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, onde o filme também faturou Melhor Fotografia e o Troféu Vaga-Lume. No VII Janela Internacional de Cinema do Recife levou os prêmios de Melhor Som e Melhor Direção. 

VENTOS DE AGOSTO já nasce 'cult'. Nota 10 no quesito 'inovação em linguagem cinematográfica', o longa é uma pérola do naturalismo antropológico. Enfim, um filme inesquecível, do tipo que faz a cabeça de cinéfilos avisados e críticos desavisados, e mata de inveja uma legião de realizadores que venderiam a mãe por um quinhão de sua inventividade, tão genial quanto despretensiosa. Mas não se enganem: não é filme para o grande público. É uma obra para pequenas e seletas plateias de ventilados ao redor deste mundo ,, vasto mundo .. 

Então, pessoal, por favor, ventilem-se !! 


Dario PR