VENTOS DE AGOSTO ( 2014 / Brasil / Drama / 77’ ), de Gabriel Mascaro - por Carmem Cortez


Nordeste, vilarejo de Alagoas. Uma moça e um rapaz. Um povoado sem luz, sem perspectivas, sem histórias específicas e /ou especiais pra contar... A vida passa ao sabor dos Ventos de Agosto... ventos que trazem alguns estrangeiros, muito provavelmente de quando em vez – e com eles a cultura de alguma coisa que não cabe ou não caberia no lugar: tatuagem, musica punk, coca-cola – um pesquisador que quer escutar os ventos, e que não cabe ou não caberia também neste contexto.

A moça e o lugar também não cabem um no outro – ou parecem não caber. O rapaz e a moça, que vivem um relacionamento por forças circunstanciais, pescam, recolhem cocos… e namoram. A vida vai passando, se desenrolando nesta cidadela do Brasil de aparente não realce e de tons esmaecidos. A morte e a vida deixam de ser tão antagônicas assim como a gente conhece ou está acostumado a sentir. Tanto faz se chove, se faz sol, se é dia ou noite. Enfim, é talvez como Deus quiser.  

Há um aparente desânimo, mas a câmera denuncia certa tensão. Uma tensão que não se revela totalmente e se dispersa quando a morte se materializa através de um crânio ou corpo decomposto achado ao acaso, despertando assim outras sensações como a curiosidade ou sentimentos mais nobres como a comiseração. Este contraste existente no filme reforça a ideia de um Nordeste que se esqueceu de si e foi esquecido, onde o Estado, por exemplo, preguiçosamente se abstém de seus deveres, embora acessível a um toque de celular (pasmem, há sinal ainda que remoto de telefonia móvel). Uma disparidade que também serve para delinear o turbilhão de sentimentos amainados, guardados no recôndito dos seus personagens. Não há luz, mas há coca-cola. A polícia não chega, mas o punk chegou!

Este filme não caberia na quarta curva depois do rio, quebrando à esquerda, onde esta comunidade está localizada narrativamente, porque ele é grande. Grande em cada enquadramento, em cada composição visual, na sua grandiosidade de contar uma história aparentemente sem histórias.


Carmem Cortez