Nordeste, vilarejo de Alagoas. Uma moça e um rapaz. Um
povoado sem luz, sem perspectivas, sem histórias específicas e /ou especiais
pra contar... A vida passa ao sabor dos Ventos de Agosto... ventos que trazem alguns estrangeiros,
muito provavelmente de quando em vez – e com eles a cultura de alguma coisa que
não cabe ou não caberia no lugar: tatuagem, musica punk, coca-cola – um pesquisador
que quer escutar os ventos, e que não cabe ou não caberia também neste
contexto.
A moça e o lugar também não cabem um no outro – ou parecem
não caber. O rapaz e a moça, que vivem um relacionamento por forças
circunstanciais, pescam, recolhem cocos… e namoram. A vida vai passando, se
desenrolando nesta cidadela do Brasil de aparente não realce e de tons esmaecidos.
A morte e a vida deixam de ser tão antagônicas assim como a gente conhece ou
está acostumado a sentir. Tanto faz se chove, se faz sol, se é dia ou noite.
Enfim, é talvez como Deus quiser.
Há um aparente desânimo, mas a câmera denuncia certa tensão.
Uma tensão que não se revela totalmente e se dispersa quando a morte se
materializa através de um crânio ou corpo decomposto achado ao acaso,
despertando assim outras sensações como a curiosidade ou sentimentos mais
nobres como a comiseração. Este contraste existente no filme reforça a ideia de
um Nordeste que se esqueceu de si e foi esquecido, onde o Estado, por exemplo, preguiçosamente
se abstém de seus deveres, embora acessível a um toque de celular (pasmem, há
sinal ainda que remoto de telefonia móvel). Uma disparidade que também serve
para delinear o turbilhão de sentimentos amainados, guardados no recôndito dos
seus personagens. Não há luz, mas há coca-cola. A polícia não chega, mas o punk
chegou!
Este filme não caberia na quarta curva depois do rio,
quebrando à esquerda, onde esta comunidade está localizada narrativamente,
porque ele é grande. Grande em cada enquadramento, em cada composição visual,
na sua grandiosidade de contar uma história aparentemente sem histórias.
Carmem Cortez