Estudo sobre a proximidade/distância do homem com a natureza
e a morte. No surpreendente e misterioso mundo de "Tio Boonmee, Que Pode
Recordar Suas Vidas Passadas" cada passo dado é rumo à profunda
incompreensão e fascinação de estar vivo. Funcionando ele mesmo como um
organismo, o filme nos convida para a fantasia onírica de uma família reunida
por uma doença que afeta um deles.
A moléstia é motivo para uma volta à natureza e ao encontro
de parentes desaparecidos/mortos e transformados em fantasmas humanos e
macacos. A muralha transparente que separa o homem racional do mundo animal é a
mesma que o mantém em contato direto com as forças e as seduções da natureza.
Não há distância sem o mínimo de aproximação; não há vida sem compreensão da
morte ("você está pisando nos insetos de propósito").
"Tio Boonmee" não está preso a um saudosismo
romântico de "volta ao estado natural" e o convite final prova isso:
mesmo se for para desbravar cavernas ou bares do meio urbano, a questão é viver
e buscar aquilo que se perdeu.
Pode-se gostar de "Tio Boonmee" apenas pelo seu
poder de imersão e contemplação. Pura sinestesia: o cheiro da tarde, o som da
lua, o toque no búfalo, o gosto da cachoeira, o frio da caverna, a solidão da
noite e a presença da morte. A exaltação dos sentidos. O único filme em 6D.
Rudá Lemos