TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS (Loong Boonmee raleuk chat/ 2010/ Apichatpong Weerasethakul/ Tailândia-Inglaterra-França-Alemanha-Espanha-Holanda) - por Rudá Lemos



Estudo sobre a proximidade/distância do homem com a natureza e a morte. No surpreendente e misterioso mundo de "Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas" cada passo dado é rumo à profunda incompreensão e fascinação de estar vivo. Funcionando ele mesmo como um organismo, o filme nos convida para a fantasia onírica de uma família reunida por uma doença que afeta um deles.

A moléstia é motivo para uma volta à natureza e ao encontro de parentes desaparecidos/mortos e transformados em fantasmas humanos e macacos. A muralha transparente que separa o homem racional do mundo animal é a mesma que o mantém em contato direto com as forças e as seduções da natureza. Não há distância sem o mínimo de aproximação; não há vida sem compreensão da morte ("você está pisando nos insetos de propósito").

"Tio Boonmee" não está preso a um saudosismo romântico de "volta ao estado natural" e o convite final prova isso: mesmo se for para desbravar cavernas ou bares do meio urbano, a questão é viver e buscar aquilo que se perdeu.


Pode-se gostar de "Tio Boonmee" apenas pelo seu poder de imersão e contemplação. Pura sinestesia: o cheiro da tarde, o som da lua, o toque no búfalo, o gosto da cachoeira, o frio da caverna, a solidão da noite e a presença da morte. A exaltação dos sentidos. O único filme em 6D.

Rudá Lemos