UM LUGAR QUALQUER ( Somewhere / EUA / 2010 / Comédia Dramática) de Sofia Coppola - por Rudá Lemos.


Há quem diga que podemos resumir a obra de Sofia Coppola à temática "ricos entediados". Das patricinhas de Michigan ("As Virgens Suicidas"), passando pelo casal eventual Bill Murray e Scarlett Johansson ("Encontros e Desencontros") e pela última rainha da França ("Maria Antonieta"), a questão é se essa espécie de marca autoral é ou não um demérito a priori.

Em “Somewhere”, Sofia invade com sua câmera intimista a privacidade de um ator (Johnny Marco/Stephen Dorff), acompanhando suas andanças por hotéis, seus relacionamentos sexuais e a relação que tem com a filha de onze anos (Cleo/Elle Fanning). Como uma estudante aplicada do cinema contemporâneo, Sofia demonstra que entediar o espectador é a melhor forma de fazê-lo sentir as angústias de seus personagens. Os pequenos acontecimentos, que seriam desprezados na montagem de um típico filme hollywoodiano, têm aqui sua importância maior.

Da simplicidade à profundidade. Será? Vejamos: é louvável Sofia fugir dos psicologismos baratos do cinema "narrativo" e focar no "nada acontecendo" que tem a finalidade master de compreensão e identificação com a trama. Ok. Da minha parte, não exijo mais que isso. E com sensibilidade e paciência, vamos mesmo se deixando encantar com os mais diversos momentos do filme. Listo alguns: a cena inicial mezzo "Paris Texas" mezzo "The Brown Bunny", a patinação de Cleo ao som de "Cool" da Gwen Stefani, a máscara, Cleo cozinhando, o sorvete com Friends dublado em italiano e, principalmente, a espécie de mini-clipe com "You Only Live Once" dos Strokes, e o desabafo de Cleo...

Agora, por favor, Sofia, não me venha com cenas de pura chantagem emocional, como aquela em que você humilha seu protagonista, tira dele toda a força, fazendo-o ligar ressentido para a ex-mulher. Golpe baixo.

Sofia incorporou Chantal Akerman ("Jeanne Dielman" foi inspiração para o filme) e achou que dilatar ainda mais "Encontros e Desencontros" seria o suficiente para fazer outra obra-prima. Valeu pela radicalidade e pelo Leão de Ouro em Veneza (dado pelo ex-namorado Tarantino – nepotismo, quem falou?), mas ficou devendo.


Rudá Lemos