O SEGREDO DAS ÁGUAS / STILL THE WATER ( Fatatsume No Mado / 2014 / Japão / 121’) de Naomi Kawase - por Carmem Cortez.


A água é um elemento que nos fala de emoção. Neste filme há dois mares ou duas imagens de mares diferentes um do outro em seu aspecto, em sua apresentação. Um mar é – ou vez por outra se mostra – calmo, de águas tranquilas. O outro é – ou o vemos assim – de águas agitadas, com ondas quebrando revoltas na arrebentação.  

Há duas mães: uma que tem uma família estruturada, com um marido e uma filha, numa harmoniosa convivência, daquele tipo de convivência de sentar-se à varanda de casa e jogar conversa fora, cantar alguma canção folclórica e lembrar situações pitorescas da vida. Na outra via, uma mãe que só tem como família um filho, e vive com ele uma relação difícil, distante, de desencontros. Desencontros no espaço coabitado, e desencontro afetivo – enquanto ela procura ser carinhosa dentro da medida do seu melhor, o menino a mantem afastada dele. Uma mãe é tranquila, serena, apenas esperando o seu destino chegar, o que não tarda a acontecer. A outra tem uma vida social/emocional agitada, de romances efêmeros e noturnos, ao que tudo indica. 

Nesse meio, entre as duas mulheres de perfis antagônicos, uma aldeia que às vezes é invadida por tufões, e com eles a chuva. Mais uma vez o elemento que denota emoção. Uma aldeia que traz um homem morto ao mar, logo no primeiro terço de projeção, nos alertando que o filme trata de questões que permeiam nossas vidas, como a morte. 

Uma aldeia onde um velho e sábio (todos os aldeões velhos são sábios) – uma espécie de conselheiro tribal – corta a garganta de um ou outro cabrito, passando a navalha sobre o pescoço do animal, e o horror que tal cena possa nos causar. Mas é por certo a garantia de comida à mesa. Uma metáfora sobre a questão dialética da vida e da morte. 

A figura do velho, pois, é a figura do tempo. O que nos dá o alimento que consumimos para sustento da alma. Nossas histórias, nossas vivências, o que levaremos conosco pra onde quer que formos. 

Still The Water” nos fala da vida, da morte, do tempo. E de como esses personagens lidam com isso. As marés são as mães desta história – haja vista a fala de um dos personagens aos quase 20 minutos finais. 

A frase final do ancião fecha de maneira interessante essa história, trazendo um delicado desfecho a esse bem dirigido filme japonês, não deixando dúvidas de que é a ele – o tempo – que devemos dar o que de melhor temos em nós, seja revolta ou serena a nossa natureza. O tempo é quem vai esperar alguma coisa dos que ainda estão construindo suas histórias. E, sábio, o tempo, enquanto vê os dois jovens nadando no mar, diz que está “...contando com vocês, crianças...” 

Um filme pra se refletir um pouco sobre a vida dentro do mar de cada um de nós. 



Carmem Cortez