Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola em cena de COLEGAS (divulgação) |
O diretor carioca Marcelo Galvão,
já conhecido por trabalhos como Rinha (2008), Bellini e o Demônio (2008), Lado B: Como fazer um Longa Sem Grana no
Brasil (2007), Quarta B (2005),
nos brinda em Gramado com essa deliciosa comédia-de-erros/road movie prevista para
entrar em circuito a partir de 09 de novembro. O guião, do próprio Marcelo, já
ganhou o prêmio
de Melhor Roteiro no Festival de Paulínia em 2008.
Os três “Colegas” protagonistas,
portadores de Síndrome de Down, são a alma, cérebro, olhos
e coração do filme. Ariel Goldenberg (como Stalone), Rita Pokk (como Aninha) e
Breno Viola (como Marcio) demonstram tamanha intimidade com a câmera que parecem
ter nascido fazendo cinema. Não é à-toa. Foram testados mais de 300 downianos (parafraseando neologismo do Zanin). Os escolhidos ensaiaram nada menos que 4
anos na Produtora Gatacine de São Paulo.
Ariel Goldenberg em cena de Colegas (divulgação) |
Os colegas trabalham na
vídeo-locadora da instituição em que vivem e são amantes da sétima arte.
Inspirados em Thelma & Louise, decidem roubar o Karmann-Ghia do jardineiro (Lima
Duarte) pra viver uma aventura na estrada. Stalone quer ver o mar, Aninha
procura um marido e Marcio precisa voar. Nessa busca, eles embarcam numa epopeia
“criminosa” que vai do cômico ao folhetinesco, sempre atravessada por um olhar
poético e a sensação de que a vida não passa de uma grande brincadeira. Completando
o circo, entra em cena a Polícia, com
seus diversos escalões e detetives pra lá de atrapalhados. Dois investigadores são
designados para o caso dos colegas desaparecidos como punição por atos
violentos cometidos na última operação. Eles tentam seguir o rastro dos colegas
através das pistas deixadas e pelo relato desencontrado das testemunhas. Apimentando
ainda mais a confusão aparece, pra fazer a cobertura dos fatos, a Imprensa, com equipes ensandecidas e
belas repórteres. Juliana Didone e Daniele Valente estão entre elas. É em meio
ao contraponto da “ingenuidade” dos colegas com a “malícia” de policiais e
repórteres que o roteiro vai sendo construído com humor e irreverência. Polícia,
imprensa e espectadores vão passo-a-passo criando simpatia pelos fugitivos que,
a cada cena, se revelam mais-e-mais espertos.
Tudo nessa trama soa clichê ou deja vu, e é. Porém no caso de COLEGAS
isso é menos um defeito que uma qualidade, pois a proposta aqui é justamente
satirizar, ironizar, citar e, acima de tudo, homenagear os filmes de aventura. Os
cinéfilos irão se deliciar com as inúmeras citações a filmes de todos os
tempos, consagrados ou não. E a aventura nesse filme parece não querer acabar. Quando
o espectador pensa que tudo já aconteceu, os colegas caem de paraquedas em Buenos Aires, por exemplo .. É impagável !! Em
outro momento – o meu preferido – a trupe se mete nada-mais-nada-menos que num show de Raul Seixas. A audiência, que
a essa altura já está muda, fica arrepiada, de puro júbilo. Na saída do cinema
ninguém consegue disfarçar o sorriso nos lábios. No boca-a-boca geral um
murmúrio é uníssomo: MUITO BOM !! Gramado já tem seu primeiro favorito.
Ariel, Rita e Breno (divulgação) |
O filme é muito beneficiado pelo esmero
da produção, evidente a cada cena. O produtor executivo Marçal Souza é cego, e
uma lenda viva no universo da produção cinematográfica nacional. Provavelmente
graças a ele tivemos nessa estreia uma novidade histórica em projeções no
Brasil: os aparelhos de áudio-descrição para deficientes visuais. A equipe promete
levar a ideia às salas de cinema em novembro próximo. Será o must.
Erros? Sim, COLEGAS tem, como os tem todos os filmes afinal. No entanto ficam pequenos diante de tantos acertos. Fazer
cinema focado na inclusão social já
é louvável, mas conseguir fazer isso com leveza, delicadeza, humor e aventura, faz
emocionar até os corações mais céticos. O zelo e o cuidado evidentes no trabalho com
esses atores downianos coloca COLEGAS num lugar ímpar, a ser seguido. Ganhar ou
perder o Festival de Gramado já não faz diferença, porque quem ganhou mesmo foi
o cinema nacional por esse filme ter sido feito.
Ariel e Rita em Gramado com replica gigante do kikito (Agencia Portella) |
E pra finalizar não quero esquecer
de dizer que o ator Ariel Goldenberg, que assume sempre ter sonhado fazer
cinema, almeja com COLEGAS ser o primeiro downiano a ganhar um Oscar. Ele criou três redes sociais, todas com o nome “euvouprooscar” (twitter,
facebook e youtube), para que as pessoas o ajudem a realizar seu mais novo sonho.
Será ?!
Abraços
.DarioPR