MESMO SE NADA DER CERTO ( 2013 / EUA / drama musical / 104’ ) de John Carney – por Thaís Estrella


Talvez o filme Begin Again (Mesmo Se Nada Der Certo, em português) possa ser resumido nas seguintes frases: "Por isso amo música. Uma cena banal, de repente, se enche de significado. Todas as banalidades, de repente, se tornam pérolas de beleza e efervescência. Graças à música." Ou talvez esse filme seja bem mais profundo que isso. E se eu te disser que neste longa essas coisas banais são na verdade as próprias pessoas, seres humanos cheios de complexidades, medos e sentimentos obscuros, como se a música desse sentido à própria existência deles, conferindo significado a vidas antes vazias e perdidas?

É isso mesmo. Nessa obra, dois protagonistas com vidas tortuosas se encontram: Dan (Mark Ruffalo), um produtor musical que beira a falência, e Greta (Keira Knightley), uma compositora que se mudou pra Nova York com o namorado, parceiro musical de longa data, mas que a traiu após o sucesso (e as admiradoras) que conquistou na indústria fonográfica. É nessa jornada de infortúnios que a música surge, não só como meio de parceria entre os dois, mas para promover significância às trajetórias deles. Não se trata aqui deles se tornarem pessoas melhores por meio da música, nada disso. Se trata deles se tornarem eles mesmos por meio da música. Descobrirem quais relações são importantes e quais não são, que valores eles têm dado às pessoas que amam e o que eles têm deixado pra trás ao sucumbir à depressão com o fracasso amoroso e profissional. O melhor é que a película apenas sugere essa descoberta, dando pistas para que o espectador possa concluir isso por si só ao longo de seus 104 minutos de projeção.

Um destaque importante (e que talvez seja revelador demais) é a atenção que a trama dá à filha de Dan, Violet (Hailee Steinfeld), que emerge de seus dilemas adolescentes ao reencontrar sua guitarra, conhecendo talentos e facetas que talvez nem julgasse ter. Novamente, a música não a torna melhor, mas a torna completa, consciente de si mesma, de tudo que ela tem a oferecer ao mundo e do que quer receber dele, desfrutando das experiências não mais fortuitamente, mas conscientemente.

Também se registra aqui o término em certa medida surpreendente da projeção. Com ele, percebe-se que a música pode capitanear tanto construções quanto desconstruções do presente, o que não a torna um instrumento potencialmente destruidor da vida de outrem. Em verdade, ela se transforma em um instrumento de fomento de recomeços, sejam eles felizes ou tristes. E é por isso que o título em inglês, Begin Again, não poderia ser mais adequado para essa obra imperdível.

Thaís Estrella