WINTER SLEEP ( Kis Uykusu / 2014 / Turquia / 196’ ) de Nuri Bilge Ceylan – por Cristina Paraguassu.



A Turquia, que está no centro das atenções por, entre outros fatos, estar sendo pressionada a reconhecer oficialmente o Genocídio Armênio, ocupou novamente a mídia por causa deste filme magnífico de Nuri Bilge Ceylan que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2014.

Winter Sleep (Sono de Inverno) lembra uma peça de teatro; se o texto for encenado em um palco funcionará com perfeição. Tem referências literárias fortes, com personagens que lembram Dostoiévski e foi inspirado, disse o diretor, em um conto de Tchekov que ficou martelando em sua cabeça por 15 anos! Mas é também cinema de qualidade assombrosa, com uma iluminação incrivelmente bela e atuações memoráveis de um elenco excelente.

A trama é sobre um ator aposentado, Aydin (Haluk Bilginer), herdeiro de propriedades, que foi morar na Anatólia – Capadócia – em seu Hotel Othelo, uma linda construção incrustada na pedra, onde publica num semanário local e pretende escrever a História do Teatro Turco. Com ele vive sua jovem esposa Nihal (Melisa Sözen), a irmã dele Necla (Demet Akbag), um fiel empregado, uma empregada, alguns hóspedes. Há os habitantes de um vilarejo não muito perto...

Certo dia um guri deste vilarejo atira uma pedra contra o carro de Aydin e quebra o vidro. Por que fez isto? Como reagem todos e as consequências que terá este ato. Tudo isto vai sendo mostrado aos poucos. O quanto o ser humano pode ser sensível ao sofrimento alheio ou se perder em um egoísmo infinito. O quanto a desigualdade social e de gênero marca uma pessoa. E o quanto a paisagem de pedras e neve se assemelha aos sentimentos aprisionados, preconceitos e papeis socialmente preestabelecidos.

Há longos diálogos, roteiro do diretor e sua esposa Ebru Ceylan, pouca música, mas muitos sons da natureza que soam agradáveis em contraste a muito do que é dito. Um detalhe ridículo me incomodou: atrizes não deveriam por silicone no lábio superior, perde-se a expressão! Por melhor atuação que se tenha, fica parecendo boneca de ventríloquo, uma lástima!

A tradição de amar o cinema é forte na Turquia. Com um premiado diretor de filmes lindos como este, tomara que esteja garantida uma nova geração de ótimos cineastas. 

Cristina Paraguassu