A HISTÓRIA DA ETERNIDADE ( 2014 / Brasil / ficção / PE / 121' ) - por Carmem Cortez.



É comovente ouvir, ver e sentir o mar pelo personagem do Irandhir Santos, nesta obra chamada A Historia da Eternidade. É comovente ver o trabalho de corpo que este ator tem, ao se entortar, rodopiar... Deixar-se carregar por sua poesia, por sua arte, pois artista ele é na história do filme e na própria vida...  Deixar-se carregar pela personagem de sua sobrinha depois que tomba ao chão...

Há nesses atores uma sincronia de corpo e alma. Um elenco que se entrega ao diretor, e se deixa conduzir por suas mãos. O resultado é harmônico. Na medida. Como uma cantiga bem ritmada. E gostosa de ouvir.

Há momentos em que se percebe uma marcação dos atores típica de montagem teatral. Essa, digamos assim, intervenção do teatro na cena cinematográfica, reforça a ideia de que temos um conto narrado pelos olhos de um artista. E nos aproxima mesmo do artista que o Irandhir interpreta.

E ele é um louco. É assim que é visto pelo irmão. Mas somente os loucos transcendem a razão, a racionalidade, a irracionalidade do racional que só pensa com a equacionalidade do 2+2, e mantem a alma refém da aridez, da mente infértil e infeliz.

Além da marcação, o filme traz uma curiosa e bem sacada câmera que enfatiza, com seus enquadramentos, mais o chão, a terra, dando pistas de que há ali sentimentos muito bem sedimentados. Guardados. Recalcados até. E então vem a chuva. E enquanto ela desce, tudo acontece. Como se fosse uma explosão – de sentimentos, dos desejos reprimidos. O que de bom e ruim acontece neste momento até o ápice desta cena, é o ponto alto. Uma das várias bolas dentro desta Historia da Eternidade.

E a câmera segue, ora aproximando, ora afastando, como se fosse um bailado. Nem muito, nem pouco, mas o suficiente para darmos conta de que esse bailado é uma espécie de ensaio, de erro e acerto, que os personagens fazem com suas emoções, ora deixando aflorar qualquer coisa que grita por dentro, ora afastando uma sensação qualquer que vem com a força da chuva que cai e encharca aquele chão sertanejo.

A menina – “essa menina” – como se chama alguém comumente no interior do nordeste, só quer um presente no dia do seu aniversário: ver o mar. E não tem presente melhor do que escutar o mar dentro de si por intermédio de Joãozinho, seu tio (Irandhir Santos), que assim como os poetas, sabe pela força das palavras e da imaginação, fazer sonhar o sonho de se sonhar acordado.


Carmem Cortez