Mais um dia de sol e calor na serra. No Palácio dos
Festivais a programação começa sempre às 10h. Quem perdeu os longas da Mostra Competitiva
na noite anterior pode ver a reprise
pela manhã. Quando o filme é muito bom, a gente encontra as mesmas pessoas
bisando.
Às 14h do sábado teve início a primeira tarde da Mostra de Curtas Gaúchos. São
10 curtas no sábado e outros 10 no domingo, 19 deles concorrendo ao Prêmio
Assembleia Legislativa, que há 11 anos fomenta novas safras da criação
audiovisual no Rio Grande do Sul. Apesar da maior parte das produções estar concentrada
em Porto Alegre, esse ano há curtas de São Leopoldo, Bento Gonçalves, Pelotas e
Santa Maria. Um deles – ‘Por Entre As Frestas’(2015) – será exibido fora de
competição, em sessão especial que homenageia a cineasta Luini Nerva, falecida
este ano. A cerimônia de premiação acontece sempre na noite de domingo, é
concorrida e festiva. A Mostra de Curtas Gaúcho é mais uma bela tradição que contamina
o primeiro final de semana do Festival de Gramado com o ar fresco da juventude.
É sempre muito bom vê-la. Axé e vida longa ..
A partir de 19h começam as sessões das mostras competitivas.
O primeiro filme apresentado foi o curta paulista ‘Herói’, que mostra uma
empregada doméstica (tema recorrente?) cuidando de um rapaz com distúrbio mental
enquanto seus pais estão fora de casa. Bem interessante. Destaque para a
atuação de Giuliana Maria.
Na sequência mais um longa da mostra competitiva latina, o
uruguaio 'Zanahoria' (cenoura em espanhol), baseado em fatos reais. Dois
jornalistas são contatados por um misterioso informante do exército que “pretende”
revelar provas sobre crimes nunca investigados da ditadura militar. Mas a
revelação vai sendo sempre adiada, a paciência vai se esgotando e a paranoia
toma conta. No entanto, a possibilidade de obter a informação é mais forte que
qualquer suspeita. Cesar Troncoso
encabeça o elenco. Um ótimo filme. Trailer: https://youtu.be/yJ0q8N65GUc
Um intervalo para divar no tapete vermelho e às 22h o
segundo bloco da noite começou com a entrega do Troféu ‘Cidade de Gramado’. Um
Daniel Filho visivelmente nervoso mas absolutamente bem humorado revelou à plateia
que sua grande paixão nunca foi produzir nem dirigir, mas atuar. E lamentou o
fato de lhe convidarem pouco para essa função. Pode isso ?!
A seguir veio o melhor momento da noite: o curta paulista ‘Muro’ (2014),
de Eliane Scardovelli, feito por um grupo de estudantes e sem nenhum orçamento,
como trabalho de conclusão de curso da Academia Internacional de Cinema. O documentário é ambientado na “comunidade” Jardim Consórcio, zona sul de São
Paulo, cujo terreno encontra-se cercado por condomínios de
classe média alta. A separação entre os dois mundos se dá através de muros com
cerca elétrica e concertinas. As crianças da favela assistem de longe às
crianças dos prédios brincando nas piscinas e quadras. Os moradores vivem sob
ameaça de despejo e acham que os habitantes dos condomínios estão se
articulando com o poder público para retirá-los de lá. Os condôminos
negam a acusação e aceitam visitar a comunidade acompanhando a equipe do filme
.. Um curta ótimo, e não apenas por sua temática social, mas pela
forma competente com que junta peças chaves de um quebra-cabeças cotidiano,
transformando a realidade urbana num produto audiovisual bem acabado. Bom de se ver, refletir a respeito, aplaudir e premiar.
Arrebatou a plateia do Palácio dos Festivais, merecidamente.
Encerrando a noite tivemos o longa carioca ‘Introdução à Música do Sangue’ (2015/95’),
de Luiz Carlos Larceda. E aí tem-se um fenômeno que foi o exato oposto. Um
time de feras calejados e premiados conseguiu fazer um filme insosso que decepcionou
a quase totalidade da audiência provocando bocejos, roncos e muita gente saindo
no meio da sessão.
Leiam a crítica completa na próxima postagem.
Até amanhã.