O JOGO DA IMITAÇÃO / THE IMITATION GAME (2014/ Inglaterra-EUA/ cinebiografia/ 114’) de Morten Tyldum - por Cristina Paraguassu.


O JOGO DA IMITAÇÃO surpreende por ter sido indicado aos Oscars de melhor filme, diretor (Morten Tyldum), ator (Benedict Cumberbatch), atriz coadjuvante (Keira Knightley), roteiro adaptado (Graham Moore), trilha sonora (Alexandre Desplat), montagem e direção de arte, quando o mais surpreendente no filme é a história (real) do matemático Alan Turing. 

Como é possível que esse gênio, que deu o pontapé inicial na criação das máquinas pensantes - nossos tão íntimos computadores -, seja desconhecido do grande público até este filme? E como ele pôde ter sido condenado por ser homossexual em pleno século XX? 

No filme há uma frase linda dita mais de uma vez: "Às vezes são as pessoas que ninguém imagina os que fazem as coisas que ninguém imaginou”.  Muitas pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da ciência e tecnologia caíram no esquecimento e outros que pouco fizeram são injustamente incensados como deuses. Este filme tem o mérito de resgatar e fazer uma homenagem a Alan Turing. 

Mas, além disso, é diversão também! O diretor norueguês, em sua estreia num filme britânico de alto orçamento, consegue imprimir um ritmo animado, embalado por boa música, mesclando trechos de documentários da segunda guerra com o drama da vida pessoal de Alan, desde a adolescência até o fim prematuro de sua vida aos 41 anos. Entendemos o quanto ele gostava de criptografias, jogos, matemática, enfim, do pensamento lógico, e o descompasso de sua vida emocional, sua dificuldade de seguir padrões sociais, de ser aceito como era. 

A questão da homossexualidade permeia todo o filme, mas fica em segundo plano, embora tenha o impacto de uma daquelas bombas que caíam sobre Londres na II Grande Guerra Mundial. E ao sabermos que mesmo a ilibada OMS só retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças em 1990 (em vigor só em 1992), fica compreensível, mesmo que inaceitável, que na civilizada Grã-Bretanha até os anos 60 tenha existido punição para os gays. Mais um paradoxo da Humanidade.

Churchill foi decisivo para a continuidade do projeto de Alan e aparece rapidamente em imagens antigas. Os russos também, apesar de decisivos na vitória aliada, tem uma menção dentro da lógica da época. 

O pensamento, o que é ser humano, o que é uma máquina-que-pensa, os preconceitos, os sentimentos, a sobrevivência, o que importa na vida afinal, são mostrados de forma cativante numa história que poderia continuar desconhecida por muito tempo. E - seria ironia? - ao redor de uma primitiva fogueira o filme nos revela a imagem mais descontraída de Alan Turing. Afinal o domínio do fogo e a descoberta dos meios para produzi-lo foi um passo tão grande para a humanidade quanto a fabricação de uma máquina-que-pensa. Para o bem ou para o mal. 


Cristina Paraguassu