A trilogia do casal Jesse e Celine - Before
Sunrise/ Before Sunset/ Before Midnight - termina com um delicioso diálogo sobre viagens no
tempo. E desta forma nos despedimos daqueles personagens que conhecemos dezoito anos
antes, no longínquo 1995, quando ainda eram jovens mochileiros que se
conhecem num trem e resolvem ficar uma noite juntos em Viena. Exatos nove anos se passam entre o lançamento de cada filme da trilogia, e a cada vez que
reencontramos Jesse e Celine, não são apenas eles que estão mais velhos.
Nós espectadores envelhecemos com eles.
Em Boyhood, o mesmo diretor, Richard Linklater volta a discorrer sobre o tempo. Mas
desta vez não há hiatos de nove anos nos separando dos personagens. Doze anos se passam em pouco menos de três horas, eles envelhecem, nós não, mas o encantamento que nos provoca é igualmente
arrebatador.
E quando nos questionamos por que um filme tão cotidiano, de dramas tão rotineiros e ambientado numa
cultura tão tipicamente americana nos fascina tanto, muitos concluem que é
devido a certo efeito de ‘espelhamento’ que Linklater sabe construir tão bem com o espectador, através de situações pelas quais todos nós um dia já passamos.
De fato, é fácil se identificar com a
história de uma família igual a tantas outras que conhecemos do lado de cá da
tela. Não há dúvida de que aquela poderia ser a nossa família, ou a de alguém
muito próximo. O 'realismo' de Linklater é dotado de uma doçura que nos atinge
como uma flecha de cupido, sem no entanto resvalar no sentimentalismo barato em nenhum momento.
Boyhood é a obra-prima de um artista
que enxerga a vida com o otimismo de quem acredita na força dos afetos construídos
ao longo do tempo, sabendo que, apesar das dores e percalços que todos
enfrentamos, existe beleza também no amadurecimento.
O que o filme nos diz, afinal, é que envelhecer é um processo natural da vida, que
somos frutos de um acúmulo de instantes e experiências que, se num primeiro
momento parecem banais, são fundamentais em nossa trajetória. Neste sentido, desfrutar
de cada fase da vida é o que realmente importa. Não é um filme sobre o passado.
É um filme sobre o AGORA. E por isso mesmo tão belo...
Thiago Sardenberg