BOYHOOD – DA INFÂNCIA À JUVENTUDE (2014 / drama / 165’) de Richard Linklater - por Thiago Sardenberg.



A trilogia do casal Jesse e Celine - Before Sunrise/ Before Sunset/ Before Midnight - termina com um delicioso diálogo sobre viagens no tempo. E desta forma nos despedimos daqueles personagens que conhecemos dezoito anos antes, no longínquo 1995, quando ainda eram jovens mochileiros que se conhecem num trem e resolvem ficar uma noite juntos em Viena. Exatos nove anos se passam entre o lançamento de cada filme da trilogia, e a cada vez que reencontramos Jesse e Celine, não são apenas eles que estão mais velhos. Nós espectadores envelhecemos com eles. 

Em Boyhood, o mesmo diretor, Richard Linklater volta a discorrer sobre o tempo. Mas desta vez não há hiatos de nove anos nos separando dos personagens. Doze anos se passam em pouco menos de três horas, eles envelhecem, nós não, mas o encantamento que nos provoca é igualmente arrebatador. 

E quando nos questionamos por que um filme tão cotidiano, de dramas tão rotineiros e ambientado numa cultura tão tipicamente americana nos fascina tanto, muitos concluem que é devido a certo efeito de ‘espelhamento’ que Linklater sabe construir tão bem com o espectador, através de situações pelas quais todos nós um dia já passamos.

De fato, é fácil se identificar com a história de uma família igual a tantas outras que conhecemos do lado de cá da tela. Não há dúvida de que aquela poderia ser a nossa família, ou a de alguém muito próximo. O 'realismo' de Linklater é dotado de uma doçura que nos atinge como uma flecha de cupido, sem no entanto resvalar no sentimentalismo barato em nenhum momento.

Boyhood é a obra-prima de um artista que enxerga a vida com o otimismo de quem acredita na força dos afetos construídos ao longo do tempo, sabendo que, apesar das dores e percalços que todos enfrentamos, existe beleza também no amadurecimento. 

O que o filme nos diz, afinal, é que envelhecer é um processo natural da vida, que somos frutos de um acúmulo de instantes e experiências que, se num primeiro momento parecem banais, são fundamentais em nossa trajetória. Neste sentido, desfrutar de cada fase da vida é o que realmente importa. Não é um filme sobre o passado. É um filme sobre o AGORA. E por isso mesmo tão belo...

Thiago Sardenberg