GRAMADO 2015 - PRIMEIRO DIA - por DarioPR



O 43º Festival de Cinema de Gramado começou ontem em clima de verão. Faz calor e nem parece que estamos no inverno. A pequena cidade da Serra Gaúcha que tem cerca de 35 mil habitantes, durante o festival fervilha, recebendo quase 300 mil turistas de todo o Brasil e do Mercosul. A rede hoteleira registra uma ocupação de quase 100%, e muitos moradores aproveitam para alugar seus imóveis por temporada. É óbvio que a grande maioria não vem pelos filmes, mas pela festividade. E festa é o que não falta. O termo “festival” encontra em Gramado seu sentido pleno.


A abertura aconteceu no final da tarde na Rua Coberta, que é por onde se estende o famoso Tapete Vermelho que leva à entrada do Palácio dos Festivais, e foi marcada pelo já tradicional show da Orquestra Sinfônica de Gramado tocando trechos clássicos de trilhas sonoras – Pantera Cor-de-Rosa, 007, Indiana Jones etc. Sugiro para o próximo ano que a orquestra inclua no repertório alguns temas marcantes da cinematografia nacional e latino-americana, para fazer justiça ao teor do festival. Entre os diversos discursos das autoridades, destaco aqui o do secretário nacional do Audiovisual, Pola Ribeiro: “Aos 43 anos, Gramado não dá sinais de desgaste. Pelo contrário, se reinventa a partir da inserção de produções latino-americanas e dá um passo importante na construção de uma verdadeira integração entre os países do nosso continente”.

A primeira sessão da noite começou com as boas-vindas da tradicional dupla de apresentadores Leonardo Machado e Renata Boldrini (como vocês podem ver, Gramado gosta de uma tradição). E seguiu-se com as apresentações das equipes do primeiro curta da mostra competitiva brasileira e do longa-metragem de Abertura.


‘Bá’ (2015/SP/14’), de Leandro Tadashi, é um curta sensível e delicado, que mostra a velhice sob a perspectiva de uma criança. Um menino tem que administrar uma nova rotina quando sua "Bá" (de Batchan, avó em japonês) vem morar com a família. A intensão do diretor foi construir duas realidades opostas: o mundo urbano, claustrofóbico e barulhento onde vivem a mãe, o pai e a filha; e outro silencioso, contemplativo, ligado às plantas e à natureza, compartilhado “telepaticamente” pelo menino e sua avó. A história é autobiográfica e a própria avó do diretor atua interpretando a si mesmo. Ótimo.
Confiram aqui o trailer: https://vimeo.com/134331770

Na sequência tivemos o longa ‘Que Horas Ela Volta?’ (2014/SP/111'), de Anna Muylaert, que a princípio estaria na mostra competitiva mas acabou saindo da competição “em virtude de uma sessão de pré-estreia marcada para o dia 11 de agosto em São Paulo, que iria de encontro ao regulamento do festival”, segundo informou à imprensa a organização do festival. Nós da imprensa não ficamos nem um pouco convencidos sobre os verdadeiros motivos que cercaram essa decisão, visto que quadro dos outros filmes nacionais em competição já foram exibidos em sessões abertas ao público em outros Festivais. Entretanto, apoiamos firmemente a solução de manter o longa como filme de abertura. ‘Que Horas Ela Volta?’ é ótimo, foi calorosamente recebido pelo público do festival e vai merecer um texto especial que escreverei logo após este.

Depois de um longo intervalo com muitas celebridades divando no tapete vermelho, tivemos mais um curta brasileiro e um longa mexicano encerrando a noite.


‘Como são Cruéis os Pássaros da Alvorada’ (2015/MG/20’), curta de João Toledo, por ter perdido o ineditismo em uma sessão aberta ao público, também foi retirado da mostra competitiva. “Ele não estava lá. Tampouco conseguia sair do lugar”.. Partindo dessa sugestiva sinopse, o curta aborda a difícil passagem da adolescência para a vida adulta, centrado num jovem e suas confusas relações sociais. Trailer: https://vimeo.com/124278214


‘En La Estancia’(2014/México/106’), de Carlos Armella, é uma ficção com pinta de documentário e tem Alejandro González Iñárritu como produtor.
La Estancia é um vilarejo abandonado no tempo e no espaço, foi despovoado após a falência da mina em torno da qual se organizava. Um documentarista chega para registrar a vida de seus dois últimos habitantes, um idoso e seu filho, estabelecendo com eles uma estreita relação.
O recurso da câmera na mão, Jesús Vallejo interpretando o idoso, e a boa performance do ator que interpreta seu filho, Gilberto Barraza – garantem a qualidade e mantem o interesse do espectador no filme. Muito bom.

Amanhã tem mais ..

DarioPR


OS QUATRO HOMENAGEADOS DE GRAMADO 2015 - por DarioPR


Pessoal, já estamos em clima de Serra Gaúcha .. Faltam só dois dias pra começar o 43º Festival de Cinema de Gramado, e já temos muito pra comentar sobre o que rola por lá esse ano. Quero iniciar falando sobre os homenageados, pois eles – como cartas selecionadas em um baralho – de certa forma dão a tônica de como a equipe do Festival está se movendo, o que eles pensam sobre o cinema e sobre o mundo. Afinal, a gente só homenageia quem a gente acha que merece ..

Este ano os homenageados são Marília Pêra, Daniel Filho, Zelito Viana e Pino Solanas. De cara já podemos dizer que Gramado parece querer ampliar o alcance de seu leque. O Cinema, per si, já não lhe basta. Numa atitude positiv(ist)a em relação às outras área do conhecimento e das artes, o festival propõe um diálogo sem preconceitos com a Televisão e a Política. Se a tendência sugerida por Gramado se confirmar, o Cinema Brasileiro dos próximos anos promete dar o que falar, com idas, vindas e reviravoltas dignas de uma longa e bizarra “novela latino-americana”.  Assistiremos pois .. Mas agora vamos aos homenageados ..


O Kikito de Cristal – a honraria de Gramado aos expoentes do cinema latino-americano – reconhece este ano a figura do diretor, produtor, roteirista e ator Fernando Solanas, hoje também Senador da República na Argentina. 

Pino Solanas, como é mais conhecido, sempre conciliou sua filmografia com projetos políticos e sociais. Já recebeu diversos prêmios internacionais por filmes como ‘Sur’ e ‘Tangos... El Exilio de Gardel’, sendo diretor de documentários obrigatórios da cinematografia argentina, ‘Memoria del Saqueo’ e ‘La Dignidade de los Nadies’ entre outros.

Em 2009 eu estava em Gramado quando seu ótimo doc ‘La Próxima Estación’ foi o vencedor da mostra competitiva de filmes latinos. De herança política peronista, o senador vem sendo duramente criticado por suas opiniões ambivalentes em relação aos rumos atuais da política-econômica argentina, já tendo sido “carinhosamente” apelidado por parte da imprensa local de Pinocho [Pinóquio] Solanas.


O diretor e produtor cearense Zelito Viana recebe este ano o troféu Eduardo Abelin – referência a um pioneiro do cinema gaúcho – que é uma distinção concedida a diretores, produtores e técnicos pelo trabalho desenvolvido em prol do Cinema Brasileiro.

Zelito foi produtor de importantes filmes da cinematografia nacional como ‘Terra em Transe’ e ‘Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro’. Sua produtora, a Mapa Filmes, fundada com os contemporâneos Glauber Rocha, Paulo César Saraceni, Walter Lima Jr e Wanderley Reis completa 50 anos em 2015. 

Como diretor ele fez 16 obras, entre longas, curtas e especiais pra Televisão. Entre elas destacam-se a cinebiografia ‘Villa-Lobos – Uma Vida de Paixão’, o especial ‘Morte e Vida Severina’, e os programas ‘Chico Total’ e ‘Chico Anysio Show’ na Rede Globo.

Zelito, além de ser um cearense arretado, é também um grande querido, que só não é mais querido porque é um só. Rapaz de família, ele é irmão do humorista Chico Anysio e da comediante Lupe Gigliotti, tio da atriz e diretora Cininha de Paula e do roteirista e ator Bruno Mazzeo; casado com a produtora Vera de Paula e pai da diretora Betse de Paula e do ator Marcos Palmeira. Somente. Confira aqui ou aqui a linda entrevista que fiz com ele quando o encontrei há 3 anos no (saudoso) Festival do Amazonas.  

O Troféu Oscarito chega a sua 25ª edição homenageando grandes atores e atrizes do Cinema Brasileiro. Quem recebe o prêmio em 2015, como já divulgamos aqui, é a atriz, cantora, diretora e produtora Marília Pêra

Veteraníssima, Marília dispensa apresentações, mas vale lembrar que está celebrando 67 anos de carreira (começou no teatro ainda criança), já fez cerca de 30 filmes, 60 espetáculos teatrais e mais de 40 trabalhos na TV. Acho que nem ela sabe mais essa conta ao certo ..

Entre seus filmes de maior destaque estão ‘Dias Melhores Virão’, de Cacá Diegues e ‘Pixote, A Lei do Mais Fraco’, de Hector Babenco. Marília já recebeu duas vezes o Kikito de Melhor Atriz em Gramado: por ‘Bar Esperança - o Último que Fecha’, em 1983, e em 1987 por ‘Anjos da Noite’. Em 2007, ela esteve na serra gaúcha ao lado do documentarista Eduardo Coutinho para encerrar o Festival com ‘Jogo de Cena’. Marília é incontestavelmente uma DEUSA na arte de atuar. Será muito emocionante aplaudi-la de pé no Palácio dos Festivais.


O Troféu Cidade de Gramado – distinção que sempre traz um convidado de honra para o evento por sua contribuição ao cinema – em 2015 vai para o produtor, diretor, ator e roteirista Daniel Filho

Nascido no Rio de Janeiro na década de 30, ele estreia no cinema em 1955 como ator no filme ‘Colégio de Brotos’ de Carlos Manga. 12 anos depois, em 1967, Daniel dá uma guinada na carreira e inicia uma meteórica trajetória como diretor de novelas da Rede Globo que duraria exatos 33 anos, e mais de 30 obras entre novelas, séries e minisséries, todas memoráveis, demarcando uma revolução estética na teledramaturgia nacional caracterizada por diálogos ágeis e tramas concisas, de forte apelo popular.  Durante esse período sua obra como diretor de cinema ficou obviamente relegada a segundo plano, tendo dirigido apenas três longas: ‘Pobre Príncipe Encantado’(1969), ‘O Casal’(1975) e ‘O Cangaceiro Trapalhão’(1983).

No ano 2000 Daniel Filho protagoniza outra grande guinada em sua carreira. Deixa a Rede Globo e, a frente da sua produtora, a Lereby Produções, passa a dedicar-se exclusivamente a produção e direção de longas-metragens. Em 15 anos pôs sua assinatura em 40 filmes como produtor, e 10 como diretor, todos campeões absolutos de bilheteria.

Agora, 15 anos depois e já consagrado como o Rei Midas do Cinema Brasileiro, Daniel nos brinda com um filme de fraco apelo popular e baixíssimo orçamento: 'Sorria, Você Está Sendo Filmado', fracasso de público e de crítica. Para onde esse mago do audiovisual está querendo nos levar desta vez ??

DarioPR

Eis a agenda das homenagens do 43º FCG programadas pra acontecer por volta das 21h, todas no Palácio dos Festivais:

·  08/08 (sábado): Troféu Cidade de Gramado –Daniel Filho

·  11/08 (terça): Troféu Oscarito – Marília Pêra
·  13/08 (quinta): Troféu Eduardo Abelin – Zelito Viana
·  14/08 (sexta): Kikito de Cristal – Pino Solanas

43º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO - de 07 a 15 de agosto de 2015 - por Dario PR



O Festival de Cinema de Gramado chega à sua 43ª edição ininterrupta como o mais tradicional evento cinematográfico do país. Ao longo de mais de quatro décadas, reflete a história do nosso cinema e testemunha a história cultural do Brasil. Desde o primeiro Kikito, feito ainda de madeira e entregue em 1973, o Festival se reinventou, resistiu, e mais de mil Kikitos já foram distribuídos.

A edição 2015 segue o mesmo formato dos últimos anos com mostras competitivas de longas brasileiros e ibero-americanos, curtas brasileiros e o Prêmio Assembleia Legislativa – Mostra Gaúcha de Curtas (dias 7 e 8). Já os troféus 'Oscarito', 'Eduardo Abelin', 'Kikito de Cristal' e 'Cidade de Gramado' prestam homenagem a atores, cineastas e personalidades ligadas ao cinema.

Marília Pêra é a grande homenageada da 25ª edição do troféu 'Oscarito', distinção entregue a grandes atores do Cinema Brasileiro. Com 24 filmes no currículo, a carioca já foi consagrada duas vezes em Gramado com o Kikito de melhor atriz em 1983 com "Bar Esperança - O Último Que Fecha" e em 1987 com "Anjos da Noite". Marília recebe o troféu 'Oscarito' na noite do dia 11 de agosto no Palácio dos Festivais.

Já o troféu 'Cidade de Gramado' vai para o cineasta carioca Daniel Filho, que estreou no cinema em 1955 como ator no filme “O Fuzileiro do Amor". Desde lá, alternou papeis como intérprete, diretor e produtor, com mais de 40 longas no currículo, que tem como marca o diálogo com o grande público. Daniel segue produzindo e dirigindo filmes, conciliando-os com sua consolidada carreira na TV. Os últimos longas assinados por ele foram "Confissões de Adolescente” (2014) e “Sorria, Você Está Sendo Filmado” (2015).

A entrada no Palácio dos Festivais se mantem acessível: 30 reais (com meia para estudantes e idosos) nas noites de exibição, e 100 reais (valor único) para a grande noite de premiação que acontece no dia 15 de agosto. Os ingressos já estão a venda no site 'Ingresso Rápido'.

Além das mostras competitivas, uma noite de pré-estreia com apresentação de projetos do programa gramadense Educavídeo e uma programação exclusiva com mostras paralelas, cinema nos bairros, cinema nas escolas, debates, encontros, lançamentos de livros e outras atividades tomam conta do evento.

A curadoria segue com os brasileiros Marcos Santuario e Rubens Ewald Filho, e a argentina Eva Piwowarski. Para esta edição foram vistos 124 filmes brasileiros e 67 estrangeiros. O resultado se reflete em duas mostras competitivas que apresentam 15 longas, sendo 8 brasileiros e 7 estrangeiros. Entre os curtas brasileiros, 15 títulos disputam o Kikito. Para a Mostra Gaúcha de Curtas, 14 curtas foram selecionados.

A premiação em dinheiro segue como um firme compromisso assumido pelo Festival com a classe cinematográfica em 2014. São 280 mil reais distribuídos entre os vencedores das mostras competitivas de longas brasileiros e estrangeiros e curtas brasileiros. A Mostra Gaúcha de Curtas segue com o apoio da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que distribui um total de 30 mil reais entre os vencedores.

A partir de hoje o Cinema Na Veia estará fazendo diariamente a cobertura completa do 43º Festival de Gramado, com matérias sobre os filmes, eventos e tudo o que mais rolar. Não deixem de acompanhar  .. 

Dario PR

RODRIGO TEIXEIRA (RT FEATURES) NO 4º OLHAR DE CINEMA DE CURITIBA - por Dario PR




O Festival Olhar de Cinema de Curitiba agitou a capital paranaense. Na sexta, o produtor Rodrigo Teixeira, fundador e proprietário da RT Features, e certamente o mais internacional de nossos produtores, fez um seminário esclarecedor e corajoso sobre os mecanismos nacionais e internacionais de produção cinematográfica.

O último filme internacional produzido por Rodrigo - 'The Witch' - recebeu este ano no Festival de Sundance o prêmio de Melhor Direção (drama). A RT Features já produziu 22 filmes e três séries de TV. E Rodrigo tem no currículo nada menos que as produções de 'Love is Strange', 'Frances Ha', 'Night Moves', 'Tim Maia', 'Alemão', 'Quando Eu Era Vivo', 'O Gorila', 'Heleno', 'O Abismo Prateado', 'Natimorto', 'O Cheiro do Ralo', entre outros .. Além do quê, é uma figura ótima que eu adorei conhecer. Compartilho com vocês alguns momentos do Seminário. 

Oriundo do mercado financeiro, Rodrigo diz que atuava na área de desenvolvimento de projetos editoriais e conhecia pouca gente no mercado audiovisual quando decidiu fundar a RT Features. “Tudo começou com o projeto editorial Camisa 13, que originou vários livros. Um deles, 'Palmeiras - Um Caso de Amor', de Mário Prata, acabou se transformando no filme de sucesso 'O Casamento de Romeu e Julieta'.

Tomei gosto pela coisa e em seguida produzi 'O Cheiro do Ralo', que não captou um único real. O diretor Heitor Dhalia e eu levantamos o dinheiro sem grandes expectativas e nos tornamos sócios do filme, que acabou sendo um grande sucesso. Gostei deste modelo de negócios e passei a me dedicar à compra de direitos dos livros para produções de cinema e à produção propriamente dita”.

Muito rapidamente, a RT Features passou a atuar também no mercado internacional, “pois estava mais fácil comprar direitos dos livros no exterior que no Brasil. Além do fato que o filme falado em português tem mercado muito restrito”.

“Nos Estados Unidos, o produtor independente faz a pré-venda para a distribuidora e ganha muito dinheiro com isso. Depois, com o filme em cartaz, entra mais dinheiro ainda, aí sim dinheiro grande, de verdade. E, dependendo da cotação do dólar, produzir nos EUA é mais barato que produzir no Brasil. O risco é grande, mas os ganhos são ótimos. Eu recomendo”.

"Frances Ha, por exemplo, produzido pela RT, teve um investimento de US$ 500 mil, e já na pré-venda recebeu US$ 2,1 milhões adiantados do distribuidor. No Brasil, a distribuidora quer receber o P&A [verba das cópias e divulgação do filme] adiantado, coisa que eu não concordo. Produtora e distribuidora devem ser sócias no filme”.

Teixeira afirma que no exterior existe um preconceito grande contra o filme nacional, e culpa a falta de estratégia do próprio cinema brasileiro: “O Brasil envia para a seleção do Festival de Cannes tanto 'Qualquer Gato Vira-Lata' como 'O Som ao Redor'. Qual o curador que vai levar este tipo de estratégia a sério?”

Em relação aos filmes brasileiros, Teixeira destaca a necessidade de começarmos a trabalhar com “orçamentos realistas”. “Apostando em orçamentos menores, produzi 'O Gorila', 'Quando Eu Era Vivo' e 'Alemão'. Ganhei dinheiro com estes três e perdi no 'Tim Maia'. 'Alemão' custou metade de Tim Maia, incluindo lançamento, e rendeu bem mais. Recuperamos o investimento no primeiro mês e dobramos no segundo.”

Teixeira se define como um produtor internacional. “Faço filmes estrangeiros porque gosto de cinema. Não tenho bandeira. Mas é claro que eu queria ver filmes brasileiros viajando”.



CÁSSIA ( 2014 / Brasil / Documentário / 120' ) de Paulo Henrique Fontenelle - por Pedro Azevedo


Esse não é apenas um documentário, é uma celebração de uma vida em que o espírito do espectador eleva-se, ampliando sua visão numa narrativa que se ergue em quadros de uma realidade clarividentemente cristalina em sua sinceridade, tornando a película uma centelha do gênio de Cássia Eller. Algo como uma faísca incendiária de fúria afetiva, uma voracidade, uma sede de infinito doce, uma virilidade delicada, enfim, a senda para a realidade da luz de um ser nobre.

Cassia não era bruta, era uma dama polidamente selvagem, não tinha classe e sim um estilo inato que petrificava os olhares. Não tinha voz, mas um timbre vocálico que mais se assemelhava a um cataclisma meteórico incitando os tímpanos ao retorno à verdadeira natureza das coisas. Não conseguia fazer mise-en-scène para repórteres por mais que tentasse, simplesmente ficava sensivelmente fechada, parecendo envergonhada pelas próprias pessoas com suas perguntas inférteis, tão longe do sopro real da vida que conhecia tão bem no palco. Num envergonhamento mútuo silenciava, se enrolava nas entrevistas. Em suma, era melhor ser tímida.

Numa narrativa minuciosa os planos vão se desvelando entre as fases estéticas da cantora, em seus passos cadenciados de amadurecimento artístico, seu florescimento surgindo numa exuberante amálgama de estilos musicais. Num puro afeto fraternal e juvenil com os amigos em Brasília, no começo de carreira, com a banda simplória, a família e a proporção que toda aquela trajetória vai tomando até ganhar a veneração da mídia e das massas.

Recortes fotográficos produzidos em efeitos dimensionais denotam uma impressão vítrea, trazendo uma delicada memória viva dos arquivos documentais de belos instantes de sua existência. O sangue que arde num deleite punk inflama o ritmo do filme em sua estrutura de montagem, alternando momentos comoventes de uma embriaguez, num embevecimento dignamente solar de seu lado intimo, com sua gravidez ou sua relação com Nando Reis e Maria Eugênia.

Sua voz, sua luz sonora, simbolizava um triunfo sobre a penumbra existencial, religiosa, sobre a mácula do tradicionalismo agrilhoado e a hipocrisia escravista do estado democrático. A mesma voz que foi condenada e suicidada pela opinião de toda uma sociedade midiática que a venerava antes, e que cruelmente conspirou em sua morte e na missa de 7º dia. Mas o que fica são os discos e a memória eterna de suas performances, reinventando a Música Popular Brasileira.

- Eu tenho medo de gente, dizia Cássia.

Paulo Henrique Fontenelle se consagra aqui mais uma vez como grande documentarista após sua trajetória com os longas ‘Loki’, ‘Dossiê Jango’ e o curta ficcional ‘Mauro Shampoo’, todos eles lhe rendendo vários prêmios festivais a fora.


Pedro Azevedo

MESMO SE NADA DER CERTO ( 2013 / EUA / drama musical / 104’ ) de John Carney – por Thaís Estrella


Talvez o filme Begin Again (Mesmo Se Nada Der Certo, em português) possa ser resumido nas seguintes frases: "Por isso amo música. Uma cena banal, de repente, se enche de significado. Todas as banalidades, de repente, se tornam pérolas de beleza e efervescência. Graças à música." Ou talvez esse filme seja bem mais profundo que isso. E se eu te disser que neste longa essas coisas banais são na verdade as próprias pessoas, seres humanos cheios de complexidades, medos e sentimentos obscuros, como se a música desse sentido à própria existência deles, conferindo significado a vidas antes vazias e perdidas?

É isso mesmo. Nessa obra, dois protagonistas com vidas tortuosas se encontram: Dan (Mark Ruffalo), um produtor musical que beira a falência, e Greta (Keira Knightley), uma compositora que se mudou pra Nova York com o namorado, parceiro musical de longa data, mas que a traiu após o sucesso (e as admiradoras) que conquistou na indústria fonográfica. É nessa jornada de infortúnios que a música surge, não só como meio de parceria entre os dois, mas para promover significância às trajetórias deles. Não se trata aqui deles se tornarem pessoas melhores por meio da música, nada disso. Se trata deles se tornarem eles mesmos por meio da música. Descobrirem quais relações são importantes e quais não são, que valores eles têm dado às pessoas que amam e o que eles têm deixado pra trás ao sucumbir à depressão com o fracasso amoroso e profissional. O melhor é que a película apenas sugere essa descoberta, dando pistas para que o espectador possa concluir isso por si só ao longo de seus 104 minutos de projeção.

Um destaque importante (e que talvez seja revelador demais) é a atenção que a trama dá à filha de Dan, Violet (Hailee Steinfeld), que emerge de seus dilemas adolescentes ao reencontrar sua guitarra, conhecendo talentos e facetas que talvez nem julgasse ter. Novamente, a música não a torna melhor, mas a torna completa, consciente de si mesma, de tudo que ela tem a oferecer ao mundo e do que quer receber dele, desfrutando das experiências não mais fortuitamente, mas conscientemente.

Também se registra aqui o término em certa medida surpreendente da projeção. Com ele, percebe-se que a música pode capitanear tanto construções quanto desconstruções do presente, o que não a torna um instrumento potencialmente destruidor da vida de outrem. Em verdade, ela se transforma em um instrumento de fomento de recomeços, sejam eles felizes ou tristes. E é por isso que o título em inglês, Begin Again, não poderia ser mais adequado para essa obra imperdível.

Thaís Estrella 

MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA ( 2015 / Austrália-EUA / Ação / 120') de George Miller - por Thiago Sardenberg


Mad Max: Estrada da Fúria é um veneno antimonotonia extremamente eficaz no combate a mesmice que tomou conta do cinema de ação contemporâneo. No filme entorpecente de George Miller, não há espaço para câmeras tremidas, cortes a cada dois segundos e trilha sonora genérica. Estamos diante de um cineasta artesão, coisa rara hoje em dia num 'cinemão' cada vez mais dominado por videoclipeiros e fotógrafos de cartão postal. Seu filme opera num outro registro, no qual qualidades fundamentais do bom cinema de gênero, coisas básicas como construção de atmosfera e domínio do espaço fílmico, não são deixadas para escanteio.

Nesta insana ópera heavy metal do caos, não faltam explosões e colisões espetaculares, mas veja só que raridade, aqui o espectador consegue de fato se situar na ação e imergir naquele universo cinematográfico singular, composto por personagens bizarros e geniais de tão criativos. Para tanto, vale destacar a direção de arte mais inventiva dos últimos anos, digna de todos os prêmios que possa vir a receber, no qual um carro porco-espinho, e outro com tambores, caixas de som e até mesmo um guitarrista que solta fogo pelo instrumento, não são ideias tão absurdas que não possam ser executadas.

No futuro pós-apocalíptico de George Miller, tampouco há espaço para aquela manjada fotografia de tons acinzentados que parece ter dominado o gênero como única opção estética possível para se apresentar um universo distópico. Seu filme é composto por um contraste de cores fortes de encher os olhos (o laranja de dia e o azul à noite). O apuro estético aqui não é mera perfumaria. Está a serviço de um tom fabular carregado de fortes tintas épicas, onde o elemento trágico está sempre presente. O resultado é um filme dotado de urgência onde as imagens grudam à retina.

Mad Max: Estrada da Fúria é um filme tenso, catártico, que estimula os sentidos e envolve o espectador com potência e precisão. Uma aula de cinema ministrada com vigor e paixão, proporcionando uma festa aos olhos e ouvidos. Mas apesar disso tudo, não é um filme de Mad Max. Quem esperou ansiosamente durante 30 anos para reencontrar o icônico “guerreiro das estradas” pode se frustrar ao notar que aqui Max Rockatansky é mero coadjuvante. A verdadeira protagonista do filme é a Imperatriz Furiosa, personagem forte e repleta de carisma, capaz de rivalizar com qualquer uma das grandes heroínas da história do cinema.

Nesse ponto, as comparações com o ator da trilogia original se tornam inevitáveis. Tom Hardy se esforça, revira os olhos pra lá e pra cá, faz caretas, mas ao final não passa disso, um ator se esforçando muito. Em nenhum momento, deixa transparecer sequer a sombra do carisma natural que Mel Gibson imprimia ao personagem. Diante desse quadro, fica fácil para Charlize Theron, grande atriz que sempre foi, engolir seu colega de cena e tomar o filme para si. É nela que vemos sangue nos olhos e é por ela que escolhemos torcer.

Falta ao Max Rockatansky de Tom Hardy aquele instinto de sobrevivência feroz que era a força do personagem na trilogia original. Aqui o personagem se resume a um ex-policial atormentado pela perda da família, mas o peso dos fantasmas do passado fica só nos breves flashbacks. Para não botar tudo na conta do ator, vale pontuar que essa condição de coadjuvante já está embutida no próprio roteiro, uma vez que é em torno da Imperatriz Furiosa que gira o conflito central do filme e é ela quem faz a trama mover. Se o roteiro teria seguido esse mesmo caminho caso Mel Gibson estivesse no projeto é dessas questões que nos fazem pensar se veio primeiro o ovo ou a galinha. No grande filme que sem dúvida é Mad Max: Estrada da Fúria faltou apenas o Mad Max.

Thiago Sardenberg 

UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA ( 2014 / Suécia etc / Comédia Dramática / 101’ ) de Roy Andersson – por Cristina Paraguassu



1-Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre A Existência é um poema.
2-Por que o pombo refletia sobre a existência você terá que ver o filme pra saber.
3-E por que ‘Um Pombo’... ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza?
4-Porque é bom demais da conta!
5-Os que gostam de certa “indústria de divertimento” não devem assistir.
6-A modorrenta indústria do divertimento é a que usa clichés, mas são vendidos como a última novidade...
7-...que causa gargalhadas como saco-de-risada, terror de vampiro ou monstros e que compactua, talvez inconscientemente (dá-se o benefício da dúvida), com as atrocidades do mundo.
8-Todos nós também, não?
9-Quem se questiona o rumo pra onde caminha a humanidade vai amar este filme.
10-O humor às vezes é ácido.
11-Há algumas esquetes que não são tão engraçadas.
12-Apenas uma esquete é de tirar o fôlego de  tão desesperadora.
13-Muitas esquetes são de mijar de rir.
14-Vá ao banheiro antes da sessão.
15-Os atores são excelentes.
16-Fotografia idem.
17-Direção idem.
18-Cenografia idem.
19-Som idem.
20-Figurinos também.
21-Por que não dizer logo que toda produção é excelente?
22-Afinal Roy Andersson passou anos na Publicidade ganhando dinheiro e compactuando... enfim...
23- Algumas cenas tem a linguagem da Propaganda.
24-Mas não vendem produtos! Literalmente, nenhuma venda.
25-O diretor foi chamado de pessimista várias vezes.
26-Ele recusa essa calúnia, com humor e fina ironia.
27-Ironiza ao usar a melodia do Hino da Batalha da República dos ianques, muito cantado por evangélicos(Glória, Glória, Aleluia!), em outros contextos, outras batalhas.
28-E rir, afinal, é uma qualidade  exclusivamente Humana.
29-Se ele fosse pessimista não faria humor com nossa condição atual.
30-É um filme que dá vontade de  ser visto outras vezes assim que acaba.
31-Como o 'Refletir sobre a Existência' também é qualidade humana, e ser bobo também, todos nós somos o pombo?
32-As colocações das câmeras paradas são sempre incomuns: nos bastidores, no espelho da aula de  dança...
32-Se pequenas tragédias pessoais como amor não correspondido, furo no encontro marcado, doem,...
33-...que dizer das grandes tragédias como guerra e sacrifícios cruéis de povos?
34-As esquetes do belicoso rei sueco Charles XII (foto) funcionam melhor na Suécia, onde, segundo disse o diretor, até hoje muita gente não sabe que ele era gay.
35-Foi chamado de filme surreal, mas de fato é realismo ao extremo, não à toa Roy cita Ladrões de Bicicleta como inspiração também.
36-Engraçado perceber a negação da realidade quando alguém afirma que o real é surreal, mérito do filme mexer nessa ferida do homo sapiens e fazer rir.
37-O título segundo o diretor foi inspirado no quadro "Os caçadores na neve" de Brueghel, o Velho, onde há pássaros solitários em galhos.
38-Se a Humanidade chegou até o século XXI e inventou tanta maravilha como a Agricultura, Arte, Ciência, etc e um filme lindo assim, é a prova de que deu certo.
39-Só precisamos refletir e rir mais, de nós mesmos inclusive!

Cristina Paraguassu

O VENDEDOR DE PASSADOS ( 2015 / Drama / Brasil ), de Lula Buarque de Hollanda – por Dario P Regis


Nossa (auto)biografia é construída pelo acúmulo de períodos de tempo e de experiências vividas ao longo de meses, anos, décadas. Varia de acordo com a maneira como interpretamos os fatos, e só é elaborada enquanto coisa - “o passado” - a posteriori, quando olhamos pra trás e começamos a contá-la. Logo, é (ou deveria ser) pessoal e intransferível. 

Por fazer parte do processo de subjetivação do ser, nossa biografia parece tão única, tão ímpar, que dificilmente imaginamos que podem existir centenas de pessoas com o passado igual ao nosso, talvez milhares. Ou seja: o passado, quando observado de um ponto de vista impessoal e distanciado, é previsível, reproduzível, consequentemente passível de ser recriado. É isso que fazem os grandes ficcionistas com seus principais personagens, criam um passado para eles ..

Vicente (Lázaro Ramos) é uma espécie de ficcionista que também constrói passados, só que profissionalmente, para pessoas reais que estejam querendo se livrar do seu e possam pagar por isso. O pacote inclui um portfólio com fotos, documentos, vídeos, cartas, até objetos garimpados em brechós que ajudem o cliente a reinventar sua história. Legalmente falando, ele é um falsário.

Na construção de sua própria biografia enquanto personagem (que também está em jogo no filme), Vicente se auto absolve da atividade ilícita por recriar a história de pessoas vitimizadas por sofrimentos tão cruéis em seus passados, que certamente o melhor mesmo é esquecê-los e reinventá-los. Um dia aparece em seu estúdio-casa uma cliente linda e misteriosa que lhe encomenda um passado, que pode ser qualquer um. Só lhe pede uma coisa: que ela tenha cometido um crime.

Com essa ótima premissa começa O Vendedor de Passados, e segue interessante, com personagens bem construídos e uma trama que parece alinhavada em planilha. A produção da Conspiração é caprichada, rica em detalhes; a direção de arte se esmera na garimpagem de objetos cênicos envolventes que de fato ajudam o espectador a “entrar” no filme.

O elenco – encabeçado por Lázaro Ramos e Alinne Moraes em belas performances – consegue dar consistência a personagens que poderiam facilmente cair na incredibilidade. A direção de Lula Buarque de Hollanda (O Mistério do Samba) é econômica, usa poucos recursos estéticos, numa decupagem básica, sem pretender inovações de linguagem, o que acaba por nos fazer focar mais na história que na fotografia do filme.

O roteiro de Isabel Muniz baseado em romance de mesmo nome (que está sendo relançado junto com o filme) do angolano José Eduardo Agualusa, flui bem na tela. O foco colocado sobre a estratégia dramática pesa um pouco no terço final, quando o filme dá uma ralentada, mas não chega a prejudicar o todo. Há momentos balanceados de tensão, humor, sexo, suspense, romance, música e reflexão que tornam o filme bem agradável. Eu gostei de ter visto. 

De quebra, saímos do cinema com uma pergunta ecoando no pensamento: como está sendo construída nossa própria biografia, o que dela é imexível, o que já modificamos, o que ainda pode ser mudado, no presente, no futuro e no passado?


Dario P Regis

JOGO DE CENA ( 2007 / Brasil / Documentário / 105’ ), de Eduardo Coutinho – por Thiago Sardenberg



Quem acredita que a principal função do cinema documentário é abordar temas da realidade de maneira didática certamente não conhece os filmes de Eduardo Coutinho. Seja registrando a vida de moradores de uma favela as vésperas do ano novo (Babilônia 2000), de um prédio de conjugados em Copacabana (Edifício Master), a classe operária do ABC paulista (Peões) ou uma comunidade rural no sertão da Paraíba (O Fim e o Princípio), o que se revela é um projeto autoral pautado na espontaneidade dos depoimentos e a fabulação resultante desse processo. Em suas próprias palavras: “não é a verdade ou a mentira que interessam, mas sim o imaginário.”

Coutinho afirmava que “ao se aproximar mais do real o documentário vira ficção”. Com isto não estava apenas problematizando as tênues fronteiras entre documentário e ficção, mas revelando que seu verdadeiro interesse consistia na potência dramática do que era narrado pelos personagens.  Pouco importando se as histórias eram reais ou não. Uma vez narradas, elas já não mais pertencem aos seus contadores, elas são do mundo. 

Mesmo fazendo filmes sem roteiros, Coutinho nunca negou que cinema é sempre construção. Em Jogo de Cena é a edição que estabelece as regras do jogo, criando paralelismos entre o depoimento real e a repetição do mesmo depoimento representado por atrizes profissionais. Depois embaralha tudo ao acrescentar depoimentos representados por atrizes desconhecidas e histórias reais de atrizes famosas. São histórias de perdas, abandono e sonhos partidos que em conjunto aproximam o registro documental do melodrama.

Ao mesmo tempo em que instiga o espectador a distinguir o depoimento real da representação, Jogo de Cena busca provocar identificação com as histórias contadas, dessa forma quebrando as barreiras entre o cinema mental (que estimula o raciocínio) e o cinema catártico (que atinge a emoção). Aqui tal efeito é atingido a partir de uma notável economia de recursos: uma cadeira num palco, uma plateia vazia ao fundo, enquadramentos estáticos. Engana-se quem acusa o filme de utilizar uma estética televisiva. Seus rostos filmados em close se aproximam menos da assepsia dos telejornais e mais da potência de clássicos como “A Paixão De Joana D'Arc” de Carl Dreyer, marco do cinema mudo francês constituído quase que exclusivamente de closes.

A emoção que estes rostos carregam independe da legitimação do real. A representação quando dotada de verdade cênica carrega em si a mesma humanidade. Não é por acaso que Coutinho elegeu um teatro como cenário de seu filme. Não bastassem as emoções e reflexões que provoca, Jogo de Cena consegue ainda prestar um belo tributo ao ofício do ator.

Ao lidar com fronteiras tão tênues quanto as que separam realidade e ficção, depoimento documental e melodrama, Coutinho realizou um filme que é a síntese de sua carreira e de quebra nos entregou mais uma obra-prima.


Thiago Sardenberg